Eram
cinco. Reuniam-se todos os dias depois do trabalho para o chope. Há
anos faziam a mesma coisa. E cada vez ficavam mais tempo na mesa do
bar. Sempre o mesmo bar e sempre a mesma mesa. No começo eram dois,
três chopes cada um, no máximo um tira-gosto, depois pra casa,
jantar. Todos tinham mulher, família, essas coisas. Mas um dia o
Gordo anunciou: “Vou jantar aqui mesmo.” E pediu um filé.
Os
outros, aos poucos, foram aderindo. Era um sacrifício deixar a roda
logo quando o papo estava ficando bom. Passaram a jantar no bar
também. Depois mais dois, três chopes cada um e pra casa, dormir.
Até que um dia o Gordo — de novo o pioneiro — bateu na mesa e
declarou:
— Pois
não vou pra casa.
— Como,
não vai pra casa?
— Não
vou. Vou passar a noite aqui.
— Mas
na hora de fecharem o bar, te botam na rua.
— Quero
ver fecharem o bar comigo aqui dentro.
Na
verdade, o dono não se animou a botar o Gordo para fora. A turma era
antiga, bons fregueses. Fechou o bar, mas deixou o Gordo na mesa. No
dia seguinte, quando os outros quatro chegaram, encontraram o Gordo
no mesmo lugar. Com uma pilha de bolachas de chope na sua frente.
— Você
não saiu daí?
— Só
para ir ao banheiro.
Em
seguida, o Gordo participou, com alguma solenidade, que não sairia
mais do bar.
— Nunca
mais?
— Nunca.
Os
outros se entreolharam, o Julião foi o primeiro a falar:
— Pois
eu também não!
Fizeram
um pacto. Ninguém sairia mais daquela mesa. Ao diabo com mulheres,
filhos, o Brasil e o resto. Só levantariam da mesa para ir ao
banheiro. Passariam o resto da vida tomando chope e batendo papo.
— E
em caso de guerra atômica? — perguntou um, previdente.
— Morremos
aqui mesmo.
— Combinado!
E
estão lá até hoje. No mesmo bar e na mesma mesa, há meses.
As
mulheres tentaram carregá-los para casa, sem sucesso. Os filhos
foram implorar, parentes e amigos tentam dissuadi-los. Sem sucesso.
Dormem ali mesmo, comem ali mesmo, se precisam de alguma coisa —
cigarros ou outra camisa — mandam buscar. O dono do bar não sabe o
que fazer. Como os cinco abandonaram seus empregos, provavelmente não
terão dinheiro para pagar a conta. Mas é pouco provável que peçam
a conta num futuro próximo. O papo está cada vez mais animado.
Luís
Fernando Veríssimo, in A mesa voadora
Nenhum comentário:
Postar um comentário