A
aula de computação foi um chute no saco. Você anda centímetro por
centímetro e tenta entender o todo. O problema é que os livros
falam de um jeito e algumas pessoas, o oposto. A terminologia se
torna lentamente compreensível. O computador só faz, ele não
sabe. Você pode confundi-lo e ele se voltar contra você.
Depende de você se dar bem com ele. Mesmo assim, o computador pode
ficar louco e fazer coisas estranhas. Pega vírus, entra em curto,
congela etc. De alguma forma, esta noite, acho que quanto menos eu
falar sobre o computador, melhor.
O
que será que aconteceu com aquele repórter francês maluco que me
entrevistou em Paris tempos atrás? Aquele que bebia uísque como a
maioria das pessoas bebe cerveja? E ele ficava mais inteligente e
interessante à medida que as garrafas se esvaziavam. Provavelmente
morto. Eu costumava beber 15 horas por dia, mas em geral era vinho e
cerveja. Eu deveria estar morto. Vou estar morto. Nada mal, pensando
nisso. Tive uma existência estranha e confusa, em grande parte
horrível, baixaria total. Mas acho que foi a forma com que me
arrastei pela merda que fez a diferença. Hoje, olhando pra trás,
acho que exibi certa compostura e classe, independentemente do que
estava acontecendo. Lembro de como os caras do FBI estavam putos
comigo na viagem de carro. “EI, ESSE CARA ESTÁ CALMO DEMAIS”,
gritou um deles, furioso. Eu não tinha perguntado por que tinham me
pegado ou para onde estávamos indo. Não me importava. Apenas mais
uma fatia da falta de sentido da vida. “AGORA, ESPEREM”, disse a
eles. “Estou com medo.” Isso pareceu fazer com que se sentissem
melhor. Para mim, eles eram como criaturas do espaço sideral. Não
conseguíamos nos relacionar. Mas era estranho. Eu não sentia nada.
Bom, não era exatamente estranho para mim, quero dizer que era
estranho no sentido comum. Eu via apenas mãos, pés e cabeças. Eles
tinham decidido alguma coisa, dependia deles. Eu não buscava justiça
ou lógica. Nunca busquei. Talvez seja por isso que nunca escrevi
nada de protesto social. Para mim, a estrutura toda nunca fez nenhum
sentido, seja o que fosse que fizessem com ela. Na verdade, você não
pode tornar alguma coisa boa se essa coisa não existe. Aqueles caras
queriam que eu demonstrasse medo, estavam acostumados a isso. Eu só
estava de cara.
Aqui
vou para a aula de computação. Mas é para o meu bem, brincar com
as palavras, meu único brinquedo. Só meditando aqui hoje à noite.
A música clássica no rádio não está muito boa. Acho que vou
desligar e me sentar um pouco com minha mulher e os gatos. Nunca
pressione, force a palavra. Diabos, não há disputa e, certamente,
pouquíssima competição. Pouquíssima.
Charles
Bukowski, in O capitão saiu para o almoço e os marinheiros
tomaram conta do navio
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