terça-feira, 7 de agosto de 2018

Pedra de escândalo

Pedra de escândalo é o objeto motivador da murmuração pública, da reprovação geral da crítica coletiva. Ninguém aceita, compreende e desculpa o elemento determinante da surpresa desagradável, irritante, provocadora. É uma solução de continuidade na vida normal do grupo.
Havia no Areópago, em Atenas, uma pedra retangular que o acusado pelos crimes do desajustamento social, calúnia, injúria, referências malévolas e falsas contra alguém ocupava durante o processo público. Diziam-na Lithôs hydreos, a pedra da injúria, do opróbrio, da humilhação. Esta pedra, skandalon, correspondia à sua símile em Roma, scandalum, pedra em que os falidos, respondendo pelos delitos da bancarrota, sentavam-se, fazendo publicamente cessão dos bens particulares para os credores. Essa pedra, scandalum, ficava diante do Capitólio.
Ocupar a pedra do escândalo era constituir-se alvo da curiosidade, do comentário, da referência humilhadora. Tornava-se um indivíduo isolado da comunidade, cercado pela desconfiança, repelido pelos conterrâneos. Ocupar ou haver comprado a pedra do escândalo passava a ser um título ignominioso para o culpado. Transmitia-se a ele próprio a tradição sinistra do skandalon, scandalum, escândalo...
Não diziam que o homem estivera na pedra de escândalo, sempre olhada com suspeita e temor, mas ficara sendo uma consequência, atributo, prolongamento dela.
É uma pedra de escândalo!…
Luís da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz

Nenhum comentário:

Postar um comentário