Pedra de
escândalo é o objeto motivador da murmuração pública, da
reprovação geral da crítica coletiva. Ninguém aceita, compreende
e desculpa o elemento determinante da surpresa desagradável,
irritante, provocadora. É uma solução de continuidade na vida
normal do grupo.
Havia no Areópago,
em Atenas, uma pedra retangular que o acusado pelos crimes do
desajustamento social, calúnia, injúria, referências malévolas e
falsas contra alguém ocupava durante o processo público. Diziam-na
Lithôs hydreos, a pedra da injúria, do opróbrio, da
humilhação. Esta pedra, skandalon, correspondia à sua
símile em Roma, scandalum, pedra em que os falidos,
respondendo pelos delitos da bancarrota, sentavam-se, fazendo
publicamente cessão dos bens particulares para os credores. Essa
pedra, scandalum, ficava diante do Capitólio.
Ocupar a pedra
do escândalo era constituir-se alvo da curiosidade, do
comentário, da referência humilhadora. Tornava-se um indivíduo
isolado da comunidade, cercado pela desconfiança, repelido pelos
conterrâneos. Ocupar ou haver comprado a pedra do escândalo
passava a ser um título ignominioso para o culpado. Transmitia-se a
ele próprio a tradição sinistra do skandalon, scandalum,
escândalo...
Não diziam que o
homem estivera na pedra de escândalo, sempre olhada com
suspeita e temor, mas ficara sendo uma consequência, atributo,
prolongamento dela.
É uma pedra de
escândalo!…
Luís da Câmara
Cascudo, in Coisas que o povo diz
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