[Junto
ao mastro principal; Starbuck apoiando-se nele.]
Minha
alma foi mais do que desafiada; foi subjugada; e por um louco! Oh,
tormento insuportável, ter a sanidade de depor as armas em tal
campo! Mas ele penetrou até o fundo e me despojou de toda a razão!
Creio compreender seu objetivo ímpio, mas sinto também que devo
ajudá-lo. Queira ou não, algo inexprimível uniu-me a ele;
reboca-me com um cabo que com nenhuma faca consigo cortar. Velho
horroroso! Quem está acima dele, ele brada a si mesmo; – sim,
seria um democrata em relação a seus superiores; mas veja como
domina todos os que estão abaixo! Oh! Vejo claramente meu triste
papel – obedecer, revoltado; e pior ainda, odiar com um toque de
compaixão! Porque em seus olhos vejo uma desgraça sombria, que me
destruiria, caso a sentisse. Mas ainda há esperança. Mar e dia me
são guias. Aquela baleia odiada tem toda a circunferência do mundo
das águas para nadar, como o peixinho dourado tem o seu aquário.
Seu propósito ofensivo aos céus, Deus ainda pode extirpá-lo. Esta
ideia elevaria meu coração, se não estivesse pesado como chumbo.
Mas todo o meu relógio está parado; meu coração, pêndulo que
tudo regula, não tenho o estímulo para dar-lhe novo impulso.
[Ouve-se
um barulho de festa no castelo de proa.]
Ai,
meu Deus! Navegar com uma tripulação pagã, que dá tão poucas
mostras de ter tido uma mãe! Paridos em um lugar qualquer deste mar
de tubarões. A Baleia Branca é sua rainha demoníaca. Ouçam! As
orgias infernais! A festa está à frente! Observem o silêncio
absoluto à popa! Creio ser um retrato da vida. À frente, no mar
radiante, a proa avança alegre, divertindo-se, pronta para o
combate, mas apenas para arrastar o sombrio Ahab atrás dela, onde
fica ruminando, em sua cabine na popa, construída sobre o rastro de
água morta e, além disso, assombrada por barulhos ferozes. O
infindável uivo me dá calafrios! Silêncio! Vocês, foliões, não
se esqueçam da vigília! Ai, vida! É numa hora dessas, quando a
alma abatida se torna mais perspicaz – que somos obrigados a
aceitar as coisas desordenadas e descomedidas – Ai, vida! É agora
que sinto seu horror latente! Mas não sou eu! Esse horror está fora
de mim! Com os sentimentos humanos que estão em mim, vou tentar
lutar contra vocês, sombrios, fantasmagóricos acontecimentos
futuros! Ó! Fiquem ao meu lado, me deem amparo, me protejam,
influências abençoadas!
Herman
Melville, in Moby Dick
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