quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

A promessa

ela se inclinou sobre o lado da cama
e abriu um portfólio
junto à parede.
estávamos bebendo.
ela disse, “você me prometeu esses
quadros uma vez, não
lembra?”
o quê? não, não, não lembro.”
bem, você prometeu”, ela disse, “e você
sabe que promessa é dívida.”
tire a mão desses quadros”,
eu disse.
então fui até a cozinha buscar
uma cerveja.
fiz uma parada para vomitar
e quando voltei
pude vê-la sair pela janela
atravessando o pátio
em direção à sua casa que ficava nos fundos.
ela tentava correr e ao mesmo tempo equilibrar 40 pinturas
sobre a cabeça:
óleos
telas em preto e branco
acrílicos
aquarelas.
ela pisou em falso e quase
caiu sentada.
então subiu depressa os degraus da varanda
e sumiu porta adentro em direção ao
seu apartamento que ficava escada acima
avançando com todos aqueles quadros
sobre a cabeça.
foi uma das coisas mais
engraçadas que jamais vi.
bem, suponho que o negócio agora seja
pintar mais 40.
Charles Bukowski, in O amor é um cão dos diabos

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