De
onde diabos aquele rapaz tinha tirado aquelas manhas?” pensou
Fulgor Sedano, enquanto regressava à Media Luna. “Eu não esperava
nada dele. ‘É um inútil’, dizia meu finado patrão dom Lucas.
‘Um frouxo de marca maior.’ Eu dava razão a ele. ‘Quando eu
morrer, pode ir começando a procurar outro trabalho, Fulgor.’
‘Está bem, dom Lucas.’ ‘Pois eu digo a você que tentei
mandá-lo ao seminário para ver se pelo menos ele conseguia para
comer e manter sua mãe quando eu faltar; mas nem isso ele se decidiu
a fazer.’ ‘O senhor não merece isso, dom Lucas.’ ‘Não se
pode contar com ele para nada, nem para servir de bengala quando eu
estiver velho. Fracassei com ele, fazer o quê, Fulgor?’ ‘É uma
verdadeira pena, dom Lucas.’
E
agora, essa. Se eu não fosse tão encarinhado pela Media Luna, nem
teria vindo ao encontro dele. Teria me largado sem avisar. Mas sentia
apreço por aquelas terras; por aquelas colinas calvas tão
trabalhadas e que continuavam aguentando o sulco do arado, dando cada
vez mais de si... Querida Media Luna... E os agregados: “Venha para
cá, terrinha do Enmedio.” E via como ela vinha. Como já estava
aqui. O tanto que uma mulher, afinal de contas, significa. “Claro
que sim!”, disse. E chicoteou suas pernas ao traspassar a porta
grande da fazenda.
Juan
Rulfo, in Pedro Páramo
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