A
jia saltara para o peito de Quincas. Ele a admirava, não tardou a
guardá-la no bolso do velho paletó sebento.
A
lua cresceu sobre a cidade e as águas, a lua da Bahia em seu
desparrame de prata entrou pela janela. Veio com ela o vento do mar,
apagou as velas, já não se via o caixão. Melodia de violões
andava pela ladeira, voz de mulher cantando penas de amor. Cabo
Martim começou também a cantar.
– Ele
adora ouvir uma cantiga...
Cantavam
os quatro, a voz de baixo do Negro Pastinha ia perder-se mais além
da ladeira, no rumo dos saveiros. Bebiam e cantavam. Quincas não
perdia nem um gole, nem um som, gostava de cantigas.
Quando
já estavam fartos de tanto cantar, Curió perguntou:
– Não
era hoje de noite a moqueca de Mestre Manuel?
– Hoje
mesmo. Moqueca de arraia – acentuou Pé-de-Vento.
–
Ninguém faz moqueca igual a Maria Clara
– afirmou o Cabo.
Quincas
estalou a língua. Negro Pastinha riu:
– Tá
doidinho pela moqueca.
– E
por que a gente não vai? Mestre Manuel é até capaz de ficar
ofendido. Entreolharam-se. Já estavam um pouco atrasados pois ainda
tinham de ir buscar as mulheres. Curió expôs sua dúvidas:
– A
gente prometeu não deixar ele sozinho.
–
Sozinho? Por quê? Ele vai com a gente.
– Tou
com fome – disse Negro Pastinha.
Consultaram
Quincas:
– Tu
quer ir?
– Tou
por acaso aleijado, pra ficar aqui?
Um
trago para esvaziar a garrafa. Puseram Quincas de pé. Negro Pastinha
comentou:
– Tá
tão bêbedo que não se aguenta. Com a idade tá perdendo a força
pra cachaça. Vambora, paizinho.
Curió
e Pé-de-Vento saíram na frente. Quincas, satisfeito da vida, num
passo de dança ia entre Negro Pastinha e cabo Martim de braço dado.
Jorge
Amado, in A morte e a morte de Quincas Berros D’água
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