Certa
noite, vi Katherine H. em Glass M. Será que algum dia seremos
capazes de nos darmos conta de que este tipo de atriz é o de
péssimas atrizes e de que este tipo de peça é o de péssimas
peças? Esnobismo e preciosismo, tanto na atuação como na escrita,
são as únicas coisas que os mantiveram longe – as duas coisas que
os mantiveram longe das massas. O diabo sabe que não tenho nenhum
amor pelas massas, tendo vivido tanto tempo entre elas, seguramente,
sob as piores condições. Seja como for, podem ser mais pobres de
alma e de disposição, mas não são piores e talvez sejam até
menos medíocres e mais gentis e mais reais do que Katherine H. e T.
Williams e do que Glass M.
É
uma moeda de duas caras – ou duas coroas, mas estando eles ligados
um ao outro, não conseguem ficar longe um do outro. As massas não
gostam de K. H. pela razão certa: ela é uma má atriz, uma
falsificação barata que se afastou por meio da mutilação e do
exagero de tudo o que é real. Mas como seus narizes estão enfiados
todos os dias na merda e eles estão muito cansados, não têm
alternativa senão considerá-la a grande dama da alma e do
alheamento, e já que os críticos têm medo dos pompons e das
guirlandas intelectuais e das sombras fantasmagóricas (sem as
lâminas de barbear de Joe Namath), de G. K. Chesterton e George
Bernard Shaw e do velho Tolstói e de Gogol e Shakespeare e Proust,
têm medo de avançar contra o repulsivo e o óbvio, porque se
admitirem que isso não passava de lixo, então a fraude e a
incompetência teriam seu fim e eles, também, teriam de acompanhar
as massas aos parques de diversões nas tardes de domingo, ou teriam
de se preocupar com o Super Bowl ou com a privada ou com o suor
fedorento sob suas axilas.
Levarei
séculos para tirar as Hepburns e os críticos do caminho, e isso é
que é o mais triste, é mais do que triste: as nossas vidas mal
chegam a um século, e o que nos mata não são os Hitlers e os
Nixons, mas os intelectuais, os poetas, os acadêmicos, os filósofos,
os professores, os liberais, todos os nossos amigos – ou, melhor,
seus amigos.
Sempre
gostei mais das conversas dos caras da prisão do que das dos caras
da universidade; acho que os caras das ferrovias têm bem mais
colhões e luz e bem menos tédio do que aqueles que ganham 400.000
dólares por semana para uma temporada de um mês em Vegas. Por que
isso? Não sei. Acho que nem Deus pode responder. Só sei que fomos
enganados por séculos, e isso vai longe, até Cristo cheira mal,
Platão cheira mal, e não estou falando de seus sovacos.
Acho
que tudo que podemos fazer é tirar uma foto, esperar e cair fora.
Charles
Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho
Nenhum comentário:
Postar um comentário