sábado, 16 de janeiro de 2016

Notas de um velho safado (8)

Certa noite, vi Katherine H. em Glass M. Será que algum dia seremos capazes de nos darmos conta de que este tipo de atriz é o de péssimas atrizes e de que este tipo de peça é o de péssimas peças? Esnobismo e preciosismo, tanto na atuação como na escrita, são as únicas coisas que os mantiveram longe – as duas coisas que os mantiveram longe das massas. O diabo sabe que não tenho nenhum amor pelas massas, tendo vivido tanto tempo entre elas, seguramente, sob as piores condições. Seja como for, podem ser mais pobres de alma e de disposição, mas não são piores e talvez sejam até menos medíocres e mais gentis e mais reais do que Katherine H. e T. Williams e do que Glass M.
É uma moeda de duas caras – ou duas coroas, mas estando eles ligados um ao outro, não conseguem ficar longe um do outro. As massas não gostam de K. H. pela razão certa: ela é uma má atriz, uma falsificação barata que se afastou por meio da mutilação e do exagero de tudo o que é real. Mas como seus narizes estão enfiados todos os dias na merda e eles estão muito cansados, não têm alternativa senão considerá-la a grande dama da alma e do alheamento, e já que os críticos têm medo dos pompons e das guirlandas intelectuais e das sombras fantasmagóricas (sem as lâminas de barbear de Joe Namath), de G. K. Chesterton e George Bernard Shaw e do velho Tolstói e de Gogol e Shakespeare e Proust, têm medo de avançar contra o repulsivo e o óbvio, porque se admitirem que isso não passava de lixo, então a fraude e a incompetência teriam seu fim e eles, também, teriam de acompanhar as massas aos parques de diversões nas tardes de domingo, ou teriam de se preocupar com o Super Bowl ou com a privada ou com o suor fedorento sob suas axilas.
Levarei séculos para tirar as Hepburns e os críticos do caminho, e isso é que é o mais triste, é mais do que triste: as nossas vidas mal chegam a um século, e o que nos mata não são os Hitlers e os Nixons, mas os intelectuais, os poetas, os acadêmicos, os filósofos, os professores, os liberais, todos os nossos amigos – ou, melhor, seus amigos.
Sempre gostei mais das conversas dos caras da prisão do que das dos caras da universidade; acho que os caras das ferrovias têm bem mais colhões e luz e bem menos tédio do que aqueles que ganham 400.000 dólares por semana para uma temporada de um mês em Vegas. Por que isso? Não sei. Acho que nem Deus pode responder. Só sei que fomos enganados por séculos, e isso vai longe, até Cristo cheira mal, Platão cheira mal, e não estou falando de seus sovacos.
Acho que tudo que podemos fazer é tirar uma foto, esperar e cair fora.
Charles Bukowski, in Pedaços de um caderno manchado de vinho

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