sexta-feira, 18 de outubro de 2024

A Contadora de Filmes | [42]

Depois, como é sabido, chegou a hora em que fecharam a Mina. Todo mundo foi embora.
Todo mundo foi chorando.
Eu fiquei. Fiquei sozinha. Não tinha para onde ir, nem com quem.
De meu irmão Mirto, que fugiu com a viúva, eu nunca mais soube nada. A mesma coisa de Manuel, o jogador de futebol; jamais se ouviu falar dele em algum clube da capital. Alguém me disse certa vez que foi visto bêbado num bordel de Valparaíso.
E Mariano continua na cadeia. Quando estava a ponto de cumprir a sentença pela morte do agiota, teve uma briga com outro preso e o matou. Ele ficou ferido. Foi condenado a outros tantos anos. Só consegui ir visitá-lo umas poucas vezes.
Ele me pediu que não fosse mais.
Disse que fazia mal para ele.
A mim também fazia mal. Em seus gestos eu via o gesto dos bandidos dos filmes (falava cuspindo entre os dentes). Além do mais, depois de matar o agiota tinha parado de gaguejar. E isso me causava uma espécie de pavor inexplicável.
Minha última visita foi quando levei a notícia da morte da nossa mãe.

Hernán Rivera Letelier, em A Contadora de Filmes

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