terça-feira, 18 de setembro de 2018

Como tudo é longe!

Eu ignoro totalmente por que devemos fazer qualquer coisa aqui embaixo; por que devemos ter amigos e aspirações, esperanças e sonhos. Não seria mil vezes preferível retirar-se à distância do mundo, longe de tudo o que provoca seu tumulto e suas complicações? Nós renunciaríamos assim à cultura e às ambições, nós perderíamos tudo sem obter nada em troca. Mas que podemos obter neste mundo? Para algumas pessoas, nenhum ganho importa, porque eles são irremediavelmente infelizes e solitários. Mesmo abertos a tudo receber dos outros, ou a tudo ler nas profundezas de suas almas, em que medida seríamos capazes de esclarecer seus destinos? Solitários na vida, nós perguntamo-nos se a solidão da agonia não é o próprio símbolo da existência humana. Lamentável fraqueza a de querer viver e morrer em sociedade: existe alguma consolação possível na última hora? É preferível morrer só e abandonado, sem afetação e mentiras. Eu provo apenas desgosto por aqueles que, na agonia, dominam-se e impõem-se atitudes para provocar uma impressão. As lágrimas somente são quentes na solidão. Todos aqueles que querem cercar-se de amigos na hora da morte, o fazem por medo e incapacidade de afrontar o seu momento supremo. Eles procuram, no momento essencial, esquecer sua própria morte. O quanto não se armam de heroísmo, trancando a porta, para se submeter a estas sensações temíveis com lucidez e terror sem limites?
Isolados, separados, tudo nos é inacessível. A mais profunda das mortes, a verdadeira morte, é a morte solitária, quando a própria luz torna-se um princípio de morte. São tais momentos o que nos separam da vida, do amor, dos sorrisos, dos amigos - e mesmo da morte. Perguntamo-nos então, se existe outra coisa além do nada do mundo e do nosso próprio nada.
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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