[...]
Artes
o advôgo ― aí é que vi. Alguém quisesse? Duvidei, foi o que
foi. Digo ao senhor! estando por ali para mais de uns quinhentos
homens, se não minto. Surgiu o silêncio deles todos. Aquele
silêncio, que pior que uma alarida. Mas, por que não davam brados,
não falavam todos total, de torna vez, para Zé Bebelo ser botado
solto?... me enfezei. Sus, pensei, com um empurrão de força em mim.
Ali naquelhorinha ― meu senhor ― foi que eu lambi ideia de como
às vezes devia de ser bom ter grande poder de mandar em todos, fazer
a massa do mundo rodar e cumprir os desejos bons da gente. De sim,
sim, pingo. Acho que eu tinha suor nas beiras da testa. Ou então ―
eu quis ― ou, então, que se armasse ali mesmo rixa feia: metade do
povo para lá, metade para cá, uns punindo pelo bem da justiça, os
outros nas voltas da cauda do demo! Mas que faca e fogo houvesse, e
braços de homens, até resultar em montes de mortos e pureza de
paz... Sal que eu comi, só.
Abre
que, ah, outra vez, Joca Ramiro reproduziu a pergunta:
― Que
se tiver algum... ― e isto e aquilo, tudo o mais.
Me
armei dum repente. Me o meu? Eu agora ia falar ― por que era que
não falava? Aprumei corpo. Ah, mas não acertei em primeiro: um
outro começou. Um Gú, certo papa-abóbora, beiradeiro, tarraco mas
da cara comprida; esse discorreu:
― Com
vossas licenças, chefe, cedo minha rasa opinião. Que é ― se
vossas ordens forem de se soltar esse Zé Bebelo, isso produz bem...
Oséquio feito, que se faz, vem a servir à gente, mais tarde, em
alguma necessidade, que o caso for... Não ajunto por mim, observo é
pelos chefes, mesmo, com esta vênia. A gente é braço d armas, para
o risco de todo dia, para tudo o miúdo do que vem no ar. Mas, se
alguma outra ocasião, depois, que Deus nem consinta, algum chefe
nosso cair preso em mão de tenente de meganhas ― então também
hão de ser tratados com maior compostura, sem sofrer vergonhas e
maldades... A guerra fica sendo de bem-criação, bom estatuto...
Aquilo
era razoável. A ver, tinha saído tão fácil, até Joca Ramiro, em
passagens, animou o Gú, com acenos. Tomei coragem mais comum. Abri a
minha boca. Aí, mas, um outro campou ligeiro, tomou a mão para
falar. Era um denominado Dósno, ou Dósmo, groteiro de terras do
Cateriangongo ― entre o Ribeirão Formoso e a Serra Escura ― e
ele tinha olhos muito incertos e vesgava. Que era que podia guardar
para dizer um homem desses, capiau medido por todos os capiaus do meu
Norte? Escutei.
― Tomém
pego licença, sôs chefes. Em que pior não veja, destorcendo meu
desatino. E-que, é-que... Que eu acho que seja melhor, em antes de
se remitir ou de se cumprir esse homem, pois bem! indagar de fazer
ele dizer ond é que estão a fortuna dele, em cobre... A mò que se
diz ― que ele possederá o bom dinheiro, em quantia, amoitado por
aí... E só, por mim, é só, com vosso perdão... Com vosso
perdão...
Riram,
uns; por que é que riram? ― rissem. Dei como um passo adiante,
levantei mão e estalei dedo, feito menino em escola. Comecei a
falar. Diadorim ainda experimentou de me reter, decerto assustado! ―
Espera, Riobaldo... ― tive o siso da voz dele no ouvido. Aí eu já
tinha principiado. O que eu acho, disse, supri neste mais menos
fraseado!
― Dê
licença, grande chefe nosso, Joca Ramiro, que licença eu peço! O
que tenho é uma verdade forte para dizer, que calado não posso
ficar...
Digo
ao senhor! que eu mesmo notei que estava falando alto demais, mas de
me abrandar não tinha prazo nem jeito ― eu já tinha começado.
Coração bruto batente, por debaixo de tudo. Senti outro fogo no meu
rosto, o salteio de que todos a finque me olhavam. Então, eu não
aceitei ninguém, o que eu não queria era ver o Hermógenes. Não
pôr as capas dos olhos nem a ideia no Hermógenes ― que Hermógenes
nenhum neste mundo não tivesse, nenhum para mim, nenhum de si! Por
isso, prendi minhas vistas só num homem, um que foi o qualquer, sem
nem escôlha minha, e porque estava bem por minha frente, um pardo.
Pobre, esse, notando que recebia tanto olhar, abaixou a cara,
amassado de não poder outra coisa. No eu falando!
― … Eu
conheço este homem bem, Zé Bebelo. Estive do lado dele, nunca menti
que não estive, todos aqui sabem. Saí de lá, meio fugido. Saí,
porque quis, e vim guerrear aqui, com as ordens destes famosos
chefes, vós... Da banda de cá, foi que briguei, e dei mão leal,
com meu cano e meu gatilho... Mas, agora, eu afirmo: Zé Bebelo é
homem valente de bem, e inteiro, que honra o raio da palavra que dá!
Aí. E é chefe jagunço, de primeira, sem ter ruindades em
cabimento, nem matar os inimigos que prende, nem consentir de com
eles se judiar... Isto, afirmo! Vi. Testemunhei. Por tanto, que digo,
ele merece um absolvido escorreito, mesmo não merece de morrer
matado à-tóa... E isto digo, porque de dizer eu tinha, como dever
que sei, e cumprindo a licença dada por meu grande chefe nosso, Joca
Ramiro, e por meu cabo-chefe Titão Passos!...
Tirei
fólego de fólego, latejei. Sei que me desconheci. Suspendi do que
estava:
― … A
guerra foi grande, durou tempo que durou, encheu este sertão. Nela
todo o mundo vai falar, pelo Norte dos Nortes, em Minas e na Bahia
toda, constantes anos, até em outras partes... Vão fazer cantigas,
relatando as tantas façanhas... Pois então, xente, hão de se dizer
que aqui na Sempre-Verde vieram se reunir os chefes todos de bandos,
com seu cabras valentes, montoeira completa, e com o sobregoverno de
Joca Ramiro ― só para, no fim, fim, se acabar com um homenzinho
sozinho ― se condenar de matar Zé Bebelo, o quanto fosse um boi de
corte? Um fato assim é honra? Ou é vergonha?...
― Para
mim, é vergonha... ― o que em brilhos ouvi: e quem falou assim foi
Titão Passos.
― Vergonha!
Raios diabos que vergonha é! Estrumes! A vergonha danada, raios
danados que seja!... ― assim; e quem gritou, isto a mais, foi Só
Candelário.
Tudo
tão aos traques de-repente, não sei, eu nem acabei o relance que me
arrepiou minha ideia! que eu tinha feito grande toleima, que decerto
ia ser para piorar ― o que foi no eu dizer que Zé Bebelo não
matava os presos; porque, se do nosso lado se matava, então não iam
gostar de escutar aquilo de mim, que podia parecer forte reprovação.
Aos brados bramados de Sô Candelário, temi perder a vez de tudo
falar. Aí, nem olhei para Joca Ramiro ― eu achasse, ligeiro
demais, que Joca Ramiro não estava aprovando meu saimento. Aí,
porque nem não tive tempo ― porque imediato senti que tinha de
completar o meu, assim!
― … A
ver. Mas, se a gente der condena de absolvido! soltar este homem Zé
Bebelo, a mãvazias, punido só pela derrota que levou ― então, eu
acho, é fama grande. Fama de glória! que primeiro vencemos, e
depois soltamos... ―; em tanto terminei de pensar! que meu receio
era tolo! que, jagunço, pelo que é, quase que nunca pensa em reto!
eles podiam achar normal que da banda de cá os inimigos presos a
gente matasse, mas apreciavam também que Zé Bebelo, como contrário,
tivesse deixado em vida os companheiros nossos presos. Gente
airada...
― … Seja
fama de glória! Só o que sei... Chagas de Cristo!... ― êta Sô
Candelário tornou a atalhar. Desadorou-se! Senhor de bofe bruto,
sapateou, de arrompe! os de perto se afastando, depressa, por a ele
darem espaço. Agora o Hermógenes havia de alguma coisa dizer? O
Hermógenes experimentava os dentes nos beiços. Ricardão fazia que
cochilava. Sô Candelário era de se temer inteiro.
Somente
que, em vez do trestampo, que a gente esperasse, e que ninguém
bridava, ele Sô Candelário espiou para cima, às pasmas, consoante
sossegado estúrdio recitou, assim em tom ― a bonita voz, de
espírito!
― … Seja
a fama de glória... Todo o mundo vai falar nisso, por muitos anos,
louvando a honra da gente, por muitas partes e lugares. Hão de botar
verso em feira, assunto de sair até divulgado em jornal de cidade...
― Ele estava mandarino, mesmo.
Aí
eu pensei, eu achei? Não. Eu disse. Disse o verdadeiro, o ligeiro, o
de não se esperar para dizer: ― ...E, que perigo que tem? Se ele
der a palavra de nunca mais tornar a vir guerrear com a gente,
decerto cumpre. Ele mesmo não há de querer tornar a vir. E o justo.
Melhor é se ele der a palavra de que vais-s embora do Estado, para
bem longe, em desde que não fique em terras daqui nem da Bahia... ―
eu disse; disse mansinho mãe, mansice, caminhos de cobra.
― Tenho
uns parentes meus em Goiás... ― Zé Bebelo falou, avindado de
repente. E falou quando não se aguardava, e também assim com tanta
vontade de falar, que alguns muito se riram. Eu não ri. Tomei uma
respiração, e aí vi que eu tinha terminado. Isto é, que comecei a
temer. Num esfrio, num átimo, me vesti de pavor. O que olhei ―
Joca Ramiro teria estado a gestos? ― Joca Ramiro fazendo um gesto,
então queria que eu calasse absolutamente a boca; eu não possuía
vênia para discorrer no que para mim não era de minha alta conta.
Eu quis, de repentemente, tornar a ficar nenhum, ninguém, safado
humildezinho...
Mas
Titão Passos trucou, senhor-moço. Titão Passos levantava a testa.
Ele, que no normal falava tão pouco, pudesse dar capacidade de
tantas constâncias?
Titão
Passos disse: ― … Então, ele indo para bem longe, está punido,
desterrado. E o que eu voto por justo. Crime maior ele teve? Pelos
companheiros nossos, que morreram ou estão ofendidos passando mal,
tenho muito dó...
Sô
Candelário disse! ― … Mas morrer em combate é coisa trivial
nossa; para que é que a gente é jagunço?! Quem vai em caça, perde
o que não acha...
Titão
Passos disse! ― … E mortes tantas, isso não é culpa de chefe
nenhum. Digo. E mais que esses grandes de nossa amizade! doutor
Mirabô de Melo, coronel Caetano, e os outros ― hão de concordar
com a resolução que a gente tome, em desde que seja boa e de bom
proveito geral. E o que eu acho, Chefe. As ordens... ― Titão
Passos terminou.
O
silêncio todo era de Joca Ramiro.
Era
de Zé Bebelo e de Joca Ramiro.
Ninguém
não reparava mais em mim, não apontavam o eu ter falado o forte
solene, o terrivelmente; e então, agora, para todos os de lá, eu
não existisse mais existido? Só Diadorim, que quase me abraçava! ―
Riobaldo, tu disse bem! Tu é homem de todas valentias... Mas, os
outros, perto de mim, por que era que não me davam louvor, com as
palavras! ― Gostei de ver! Tatarana! Assim é que é assim! ―?
Só, que eu tinha pronunciado bem, Diadorim mais me disse! e que
tinha sido menos por minhas tantas palavras, do que pelo rompante
brabo com que falei, acendido, exportando uma espécie de autoridade
que em mim veio. E para Zé Bebelo eu não tinha olhado. Que era que
ele de mim devia de estar pensando? E Joca Ramiro? Esses se
fronteavam! um ao outro, e o em meio, se mediam.
Rente
que nesse resto de tempo decerto cruzaram palavras, que não deram
para eu ouvir. Pois porque Zé Bebelo teve ordem de falar, devia de
ter tido. A licença. Principiou. Foi discorrendo vagaroso, de
entremeado, coisa sem coisa. Vi e vi! ele estava só apalpando o vau.
Sujeito finório. Aí o qualquer zunzo que houvesse, ele colhia e
entendia no ar ― estava com as orêlhas por isso, aquela cabeça
sobrenadando. Já um pouco descabelado. Mas serenou sota, para
diante.
― … Altas
artes que agradeço, senhor chefe Joca Ramiro, este sincero
julgamento, esta bizarria... Agradeço sem tremor de medo nenhum, nem
agências de adulação! Eu. José, Zé Bebelo, é meu nome: José
Rebêlo Adro Antunes! Tataravó meu Francisco Vizeu Antunes ― foi
capitão-de-cavalos... Demarco idade de quarenta-e-um anos, sou filho
legitimado de José Ribamar Pachêco Antunes e Maria Deolinda Rebêlo;
e nasci na bondosa vila mateira do Carmo da Confusão...
Oragos.
Para que a tanta sensaboria toda, essas filosofias? Mas porém ele
pronunciava com brio, sem as papeatas de em antes, sem o remonstrar
nem os reviretes:
― … Agradeço
os que por mim bem falaram e puniram... Vou depor. Vim para o Norte,
pois vim, com guerra e gastos, à frente de meus homens, minha
guerra... Sou crescido valente, contra homens valentes quis dar o
combate. Não está certo? Meu exemplo, em nomes, foram estes: Joca
Ramiro, Joãozinho Bem-Bem, Só Candelário!... e tantos outros
afamados chefes, uns aqui presentes, outros que não estão...
Briguei muito mediano, não obrei injustiça nem ruindades nenhumas;
nunca disso me reprovam. Desfaço de covardes e de biltragem! Tenho
nada ou pouco com o Governo, não nasci gostando de soldados... Coisa
que eu queria era proclamar outro governo, mas com a ajuda, depois,
de vós, também. Estou vendo que a gente só brigou por um
mal-entendido, maximé. Não obedeço ordens de chefes políticos. Se
eu alcançasse, entrava para a política, mas pedia ao grande Joca
Ramiro que encaminhasse seus brabos cabras para votarem em mim, para
deputado... Ah, este Norte em remanência: progresso forte, fartura
para todos, a alegria nacional! Mas, no em mesmo, o afã de política,
eu tive e não tenho mais... A gente tem de sair do sertão! Mas só
se sai do sertão é tomando conta dele a dentro... Agora perdi.
Estou preso. Mudei para adiante! Perdi ― isto é ― por culpa de
má-hora de sorte; o que não creio. Altos descuidos alheios... De
ter sido guardado prisioneiro vivo, e estar defronte de julgamento,
isto é que eu louvo, e que me praz. Prova de que vós nossos
jagunços do Norte são civilizados de calibre! que não matam com o
distrair de mão um qualquer inimigo pegado. Isto aqui não são
essas estrebarias... Estou a cobro de desordens malinas. Estimei. Dou
viva Joca Ramiro, seus outros chefes, comandantes de seus terços. E
viva sua valente jagunçada! Mas, homem sou. Sou de altas cortesias.
Só que medo não tenho; nunca tive, no travável...
Anda
que fez um gesto bonito. Assaz, aí, se espiritou. Ao que, de vez,
foi grandeúdo!
― ...Uê,
vim guerrear, de peito aberto, com estrondos. Não vim socolor de
disfarces, com escondidos e logro. Perdi, por um desguardo. Não por
má chefia minha! Não devia de ter querido contra Joca Ramiro dar
combate, não devia-de. Não confesso culpa nem retrauta, porque
minha regra é! tudo que fiz, valeu por bem feito. E meu consueto.
Mas, hoje, sei! não devia-de. Isto é! depende da sentença que vou
ter, neste nobre julgamento. Julgamento, digo, que com arma ainda na
mão pedi; e que deste grande Joca Ramiro mereci, de sua alta
fidalguia... Julgamento ― isto, é o que a gente tem de sempre
pedir! Para que? Para não se ter medo! E o que comigo é. Careci
deste julgamento, só por verem que não tenho medo... Se a condena
for às ásperas, com a minha coragem me amparo. Agora, se eu receber
sentença salva, com minha coragem vos agradeço. Perdão, pedir, não
peço! que eu acho que quem pede, para escapar com vida, merece é
meia-vida e dobro de morte. Mas agradeço, fortemente. Também não
posso me oferecer de servir debaixo darmas de Joca Ramiro ― porque
tanto era honra, mas não condizia bem. Mas minha palavra dando,
minha palavra as mil vezes cumpro! Zé Bebelo nunca roeu nem torceu.
E, sem mais por dizer, espero vossa distinta sentença. Chefe.
Chefes.
Digo
ao senhor, foi um momento movimentado.
Zé
Bebelo, acabando nas palavras, ali sentadinho ficou, repequeno,
pequenininho, encolhido ao mais. Já um pouco descabelado. Era uma
bolinha de gente. Fechou-se um homem. Olhei, olhei. Só a gente mal
ouvisse o sussurro de todos lá; que foi bom: conheci que era. ― O
sujeito machacá! Assopres! ― Arre, maluco é ― mas frege...
Capaz que castra garrote com as unhas dos dedos... Não o que
Diadorim não disse ― mas ele estava assim por pálido. Vai, vi os
chefes. Eles conversaram um circuitozinho, ligeiro. O Hermógenes e o
Ricardão ― e Joca Ramiro para eles sorriu, seus compadres. O
Ricardão e o Hermógenes ― eles dois eram chouriço e morcela. Só
Candelário ― conforme seus conformes, avançante ― Joca Ramiro
sorriu para Só Candelário. O jeito de João Goanhá ― richarte.
Só Titão Passos espiava desolhadamente, ele tão aposto homem tão
bom, tão sério: com as mãos ajuntadas baixo, em frente da barriga
― só esperava o nada virar coisas. Acontecesse o que. Joca Ramiro
ia decidir! Sobre o simples, o Hermógenes ainda ia se debruçar,
para um dizer em orêlha. Mas Joca Ramiro encurtou tudo num gesto.
Era a hora. O poder dele veio distribuído endireito em Zé Bebelo. O
quando falou:
― O
julgamento é meu, sentença que dou vale em todo este norte. Meu
povo me honra. Sou amigo dos meus amigos políticos, mas não sou
criado deles, nem cacundeiro. A sentença vale. A decisão. O senhor
reconhece?
― Reconheço
― Zé Bebelo aprovou, com firmeza de voz, ele já descabelado
demais. Se fez que as três vezes, até: ― Reconheço. Reconheço!
Reconheço... ― estréques estalos de gatilho e pinguelo ― o que
se diz! essas detonações.
― Bem.
Se eu consentir o senhor ir-se embora para Goiás, o senhor põe a
palavra, e vai?
Zé
Bebelo demorou resposta. Mas foi só minutozinho. E, pois!
― A
palavra e vou, Chefe. Só solicito que o senhor determine minha ida
em modo correto, como compertence.
― A
falando?
― Que!
se ainda tiver homens meus vivos, presos também por aí, que tenham
ordem de soltura, ou licença de vir comigo, igualmente...
Ao
que Joca Ramiro disse! ― Topo. Topo.
― … E
que, tendo nenhum, eu viaje daqui sem vigia nenhuma, nem guarda, mas
o senhor me fornecendo animal-de-sela arreado, e as minhas armas, ou
boas outras, com alguma munição, mais o de-comer para os três
dias, legal...
Ao
que aí Joca Ramiro assim três vezes! ― Topo. Topo!
― … Então,
honrado vou. Mas, agora, com sua licença, a pergunta faço! pelo
quanto tempo eu tenho de estipular, sem voltar neste Estado, nem na
Bahia? Por uns dois, três anos?
― Até
enquanto eu vivo for, ou não der contra-ordem...
― Joca
Ramiro aí disse, em final. E se levantou, num de repente. Ah, quando
ele levantava, puxava as coisas consigo, parecia ― as pessoas, o
chão, as árvores desencontradas. E todos também, ao em um tempo ―
feito um boi só, ou um gado em círculos, ou um relincho de cavalo.
Levantaram campo. Reinou zoeira de alegria! todo o mundo já estava
com cansaço de dar julgamento, e se tinha alguma certa fome.
[…]