No
dia a dia do engenho,
toda
a semana, durante,
cochichavam-me
em segredo:
saiu
um novo romance.
E
da feira do domingo
me
traziam conspirantes
para
que o lesse e explicasse
um
romance de barbante.
Sentados
na roda morta
de
um carro de boi, sem jante,
ouviam
o folheto guenzo,
a
seu leitor semelhante,
com
as peripécias de espanto
preditas
pelos feirantes.
Embora
as coisas contada
se
todo o mirabolante
em
nada ou pouco variassem
nos
crimes, no amor, nos lances,
e
soassem como sabidas
de
outros folhetos migrantes,
a
tensão era tão densa,
subia
tão alarmante,
que
o leitor que lia aquilo
como
puro alto-falante,
e,
sem querer, imantara
todos
ali, circunstantes,
receava
que confundissem
o
de perto com o distante,
o
ali com o espaço mágico,
seu
franzino com o gigante,
e
que o acabassem tomando
pelo
autor imaginante
ou
tivesse que afrontar
as
brabezas do brigante.
(E
acabariam, não fossem
contar
tudo à casa-grande:
na
moita morta do engenho,
um
filho-engenho, perante
cassacos
do eito e de tudo,
se
estava dando ao desplante
de
ler letra analfabeta
de
curumba, no caçanje
próprio
dos cegos de feira,
muitas
vezes meliantes.)
João Cabral de Melo Neto, in Antologia Poética
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