domingo, 28 de abril de 2024
Curso superior
Marcelino Freire, in Contos Negreiros
A bailarina
João Cabral de Melo Neto, in Antologia Poética
As Olimpíadas
... são um evento assombroso. Começa com aquela festa linda, comovente, festa de fraternidade e paz. Norte-americanos e iraquianos desfilaram no mesmo desfile sem que o Bush tentasse matar os atletas do Iraque como terroristas disfarçados. Ele estava jogando golfe. O grande símbolo: uma oliveira cheia de folhas! Dizem os poemas sagrados que a pomba que Noé soltou ao final do dilúvio voltou com um ramo de oliveira no bico. Que bom seria se aquela oliveira anunciasse o fim do dilúvio de loucuras bélicas que está destruindo o mundo! Algumas dessas festas ficam inesquecíveis. Lembro-me do ursinho que marcou as Olimpíadas de Moscou. No encerramento, o ursinho chorou: lágrimas escorriam pelo seu rosto. Sei muito bem que urso não tem rosto, urso tem é focinho, mas seria feio dizer “lágrimas escorriam pelo seu focinho”. Do jeito como as coisas vão, em breve se dirá que os bichos têm rosto e os homens têm focinho. Aí chega o primeiro dia. Vai-se a fraternidade. Agora é briga. Briga pelo pódio. O pódio é motivo de briga. Todo pódio é motivo de briga. Nas Olimpíadas não há lugar para fraternidade porque fraternidade significa todo mundo junto brincando de roda e nas Olimpíadas não há cantigas de roda. No pódio só cabem três. Cada atleta quer mesmo é que o outro se dane. Ah! A suprema felicidade do velocista dos 100 metros quando sabe que o recordista baixou no hospital acometido de uma súbita cólica renal, na véspera das finais. E as ginastas rezam, enquanto as adversárias executam os seus números: “Tomara que ela escorregue...”.
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola
Capítulo 134 | Cinquenta anos
Machado de Assis, in Memórias Póstumas de Brás Cubas
quinta-feira, 25 de abril de 2024
Os sonhos de Astiages
Jorge Luis Borges, in Livro de Sonhos
Exame
Marco Aurélio, in Meditações
O alistamento
Os passos estão se tornando mais nítidos. Um pouco mais próximos. Agora soam quase perto. Ainda mais. Agora mais perto do que poderiam estar de mim. No entanto continuam a se aproximar. Agora não estão mais perto, estão em mim. Vão me ultrapassar e prosseguir? Seria a minha esperança, a minha salvação. Não sei mais com que sentido percebo distância. É que os passos não estão próximos e pesados, já não estão apenas em mim: eu marcho com eles, eu me engajei.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
Verdades e mentiras do "Tango de Nancy"
Nelson Barros da Costa, in Chico Buarque: o poeta das mulheres, dos desvalidos e dos perseguidos
quarta-feira, 24 de abril de 2024
A implosão da mentira | 2
Affonso Romano de Sant’Anna, in A implosão da mentira e outros poemas
Considerações Iatrofilosóficas
João Ubaldo Ribeiro, in O rei da noite
A Contadora de Filmes | [16]
Hernán Rivera Letelier, in A Contadora de Filmes
O andarilho
Friedrich Nietzsche, in Assim falou Zaratustra