Evidente/mente
a crer
nos
que me mentem
uma
flor nasceu em Hiroshima
e
em Auschwitz havia um circo
permanente.
Mentem.
Mentem caricaturalmente:
mentem
como a careca
mente
ao pente,
mentem
como a dentadura
mente
ao dente,
mentem
como a carroça
à
besta em frente,
mentem
como a doença
ao
doente,
mentem
clara/mente
como
o espelho transparente.
Mentem
deslavada/mente,
como
nenhuma lavadeira mente
ao
ver a nódoa sobre o linho. Mentem
com
a cara limpa e nas mãos
o
sangue quente. Mentem
ardente/mente
como um doente
nos
seus instantes de febre. Mentem
fabulosa/mente
como o caçador que quer passar
gato
por lebre. E nessa trilha de mentira
a
caça é que caça o caçador
com
a armadilha.
E
assim cada qual
mente
industrial? Mente,
mente
partidária? Mente,
mente
incivil? Mente,
mente
tropical? Mente,
mente
incontinente? Mente,
mente
hereditária? Mente,
mente,
mente, mente.
E
de tanto tão brava/mente
constroem
um país
de
mentira
diária/mente.
Affonso Romano de Sant’Anna, in A implosão da mentira e outros poemas
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