Fonte: www.streetartutopia.com
terça-feira, 31 de julho de 2012
Os conduzidos não devem ser constrangidos
“Sei perfeitamente que, para se alcançar
qualquer finalidade organizadora, é necessário haver quem pense, coordene e, no
total, assuma a responsabilidade. Porém, os conduzidos não devem ser
constrangidos, mas antes poderem eleger o seu chefe. Um sistema autocrático de
coação degenera, a meu ver, dentro de pouco tempo, pois a violência atrai
aqueles que são moralmente inferiores e, em regra, no meu entender, aos tiranos
de gênio sucedem-se geralmente patifes”.
Albert
Einstein, in Como Vejo o Mundo
segunda-feira, 30 de julho de 2012
O ovo e a galinha
De
manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
Olho o
ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo.
Ver o ovo nunca se mantêm no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto
o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança
de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais:
ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo.
– Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar
é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o
ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.
Ver o
ovo é impossível: o ovo é supervisível como há sons supersônicos. Ninguém é
capaz de ver o ovo. O cão vê o ovo? Só as máquinas veem o ovo. O guindaste vê o
ovo. – Quando eu era antiga um ovo pousou no meu ombro. – O amor pelo ovo
também não se sente. O amor pelo ovo é supersensível. A gente não sabe que ama
o ovo. – Quando eu era antiga fui depositária do ovo e caminhei de leve para
não entornar o silêncio do ovo. Quando morri, tiraram de mim o ovo com cuidado.
Ainda estava vivo. – Só quem visse o mundo veria o ovo. Como o mundo o ovo é
óbvio.
O ovo
não existe mais. Como a luz de uma estrela já morta, o ovo propriamente dito
não existe mais. – Você é perfeito, ovo. Você é branco. – A você dedico o
começo. A você dedico a primeira vez.
Ao ovo
dedico a nação chinesa.
O ovo é
uma coisa suspensa. Nunca pousou. Quando pousa, não foi ele quem pousou. Foi
uma coisa que ficou embaixo do ovo. – Olho o ovo na cozinha com atenção
superficial para não quebrá-lo. Tomo o maior cuidado de não entendê-lo. Sendo
impossível entendê-lo, sei que se eu o entender é porque estou errando.
Entender é a prova do erro. Entendê-lo não é o modo de vê-lo. – Jamais pensar
no ovo é um modo de tê-lo visto. – Será que sei do ovo? É quase certo que sei.
Assim: existo, logo sei. – O que eu não sei do ovo é o que realmente importa. O
que eu não sei do ovo me dá o ovo propriamente dito. – A Lua é habitada por
ovos.
O ovo é
uma exteriorização. Ter uma casca é dar-se.- O ovo desnuda a cozinha. Faz da
mesa um plano inclinado. O ovo expõe. – Quem se aprofunda num ovo, quem vê mais
do que a superfície do ovo, está querendo outra coisa: está com fome.
O ovo é
a alma da galinha. A galinha desajeitada. O ovo certo. A galinha assustada. O
ovo certo. Como um projétil parado. Pois ovo é ovo no espaço. Ovo sobre azul. –
Eu te amo, ovo. Eu te amo como uma coisa nem sequer sabe que ama outra coisa. –
Não toco nele. A aura de meus dedos é que vê o ovo. Não toco nele – Mas
dedicar-me à visão do ovo seria morrer para a vida mundana, e eu preciso da
gema e da clara. – O ovo me vê. O ovo me idealiza? O ovo me medita? Não, o ovo
apenas me vê. É isento da compreensão que fere. – O ovo nunca lutou. Ele é um
dom. – O ovo é invisível a olho nu. De ovo a ovo chega-se a Deus, que é
invisível a olho nu. – O ovo terá sido talvez um triângulo que tanto rolou no
espaço que foi se ovalando. – O ovo é basicamente um jarro? Terá sido o
primeiro jarro moldado pelos etruscos ? Não. O ovo é originário da Macedônia.
Lá foi calculado, fruto da mais penosa espontaneidade. Nas areias da Macedônia
um homem com uma vara na mão desenhou-o. E depois apagou-o com o pé nu.
O ovo é
coisa que precisa tomar cuidado. Por isso a galinha é o disfarce do ovo. Para
que o ovo atravesse os tempos a galinha existe. Mãe é para isso. – O ovo vive
foragido por estar sempre adiantado demais para a sua época. – O ovo por
enquanto será sempre revolucionário. – Ele vive dentro da galinha para que não
o chamem de branco. O ovo é branco mesmo. Mas não pode ser chamado de branco.
Não porque isso faça mal a ele, mas as pessoas que chamam ovo de branco, essas
pessoas morrem para a vida. Chamar de branco aquilo que é branco pode destruir
a humanidade. Uma vez um homem foi acusado de ser o que ele era, e foi chamado
de Aquele Homem. Não tinham mentido: Ele era. Mas até hoje ainda não nos
recuperamos, uns após outros. A lei geral para continuarmos vivos: pode-se
dizer “um rosto bonito”, mas quem disser “O rosto”, morre; por ter esgotado o
assunto.
Com o
tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o
sobrenome. – Deve-se dizer “o ovo da galinha”. Se eu disser apenas “o ovo”,
esgota-se o assunto, e o mundo fica nu. – Em relação ao ovo, o perigo é que se
descubra o que se poderia chamar de beleza, isto é, sua veracidade. A
veracidade do ovo não é verossímil. Se descobrirem, podem querer obrigá-lo a se
tornar retangular. O perigo não é para o ovo, ele não se tornaria retangular.
(Nossa garantia é que ele não pode: não poder é a grande força do ovo: sua
grandiosidade vem da grandeza de não poder, que se irradia como um não querer.)
Mas quem lutasse por torná-lo retangular estaria perdendo a própria vida. O ovo
nos expõe, portanto, em perigo. Nossa vantagem é que o ovo é invisível. E
quanto aos iniciados, os iniciados disfarçam o ovo.
Quanto
ao corpo da galinha, o corpo da galinha é a maior prova de que o ovo não
existe. Basta olhar para a galinha para se tornar óbvio que o ovo é impossível
de existir.
E a
galinha? O ovo é o grande sacrifício da galinha. O ovo é a cruz que a galinha
carrega na vida. O ovo é o sonho inatingível da galinha. A galinha ama o ovo.
Ela não sabe que existe o ovo. Se soubesse que tem em si mesma o ovo, perderia
o estado de galinha. Ser galinha é a sobrevivência da galinha. Sobreviver é a
salvação. Pois parece que viver não existe. Viver leva a morte. Então o que a
galinha faz é estar permanentemente sobrevivendo. Sobreviver chama-se manter
luta contra a vida que é mortal. Ser galinha é isso. A galinha tem o ar
constrangido.
Trecho inicial do conto O ovo e a galinha, de Clarice Lispector. Texto completo aqui.
“É o bom leitor que faz o bom livro; em
cada livro, ele encontra trechos que parecem confidências ou apartes ocultos
para qualquer outro e evidentemente destinados ao seu ouvido; o proveito dos
livros depende da sensibilidade do leitor; a ideia ou paixão mais profunda
dorme como numa mina enquanto não é descoberta por uma mente e um coração afins”.
Ralph
Waldo Emerson, in Sociedade e Solidão
domingo, 29 de julho de 2012
Paratodos, com Chico Buarque
O meu pai era
paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro.
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Meu maestro soberano
Foi Antonio Brasileiro.
Foi Antonio Brasileiro
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas.
Quem soprou esta toada
Que cobri de redondilhas
Pra seguir minha jornada
E com a vista enevoada
Ver o inferno e maravilhas.
Nessas tortuosas trilhas
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro.
A viola me redime
Creia, ilustre cavalheiro
Contra fel, moléstia, crime
Use Dorival Caymmi
Vá de Jackson do Pandeiro.
Vi cidades, vi dinheiro
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho.
Bandoleiros, vi hospícios
Moças feito passarinho
Avoando de edifícios
Fume Ari, cheire Vinícius
Beba Nelson Cavaquinho.
Para um coração mesquinho
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto.
Contra a solidão agreste
Luiz Gonzaga é tiro certo
Pixinguinha é inconteste
Tome Noel, Cartola, Orestes
Caetano e João Gilberto.
Viva Erasmo, Ben, Roberto
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista.
Gil e Hermeto, palmas para
Todos os instrumentistas
Salve Edu, Bituca, Nara
Gal, Bethania, Rita, Clara
Evoé, jovens à vista.
O meu pai era paulista
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Meu avô, pernambucano
O meu bisavô, mineiro
Meu tataravô, baiano
Vou na estrada há muitos anos
Sou um artista brasileiro.
Composição:
Chico Buarque
Inspiração e razão
“Eu não sei o que é a
inspiração. Mas também a verdade é que às vezes nós usamos conceitos que nunca
paramos a examinar. Vamos lá a ver: imaginemos que eu estou a pensar
determinado tema e vou andando, no desenvolvimento do raciocínio sobre esse
tema, até chegar a uma certa conclusão. Isto pode ser descrito, posso descrever
os diversos passos desse trajeto, mas também pode acontecer que a razão, em
certos momentos, avance por saltos; ela pode, sem deixar de ser razão, avançar
tão rapidamente que eu não me aperceba disso, ou só me aperceba quando ela
tiver chegado ao ponto a que, em circunstâncias diferentes, só chegaria depois
de ter passado por todas essas fases.
Talvez,
no fundo, isso seja inspiração, porque há algo que aparece subitamente; talvez
isso possa chamar-se também intuição, qualquer coisa que não passa pelos pontos
de apoio, que saltou de uma margem do rio para a outra, sem passar pelas
pedrinhas que estão no meio e que ligam uma à outra. Que uma coisa a que nós
chamamos razão funcione desta maneira ou daquela, que funcione com mais
velocidade ou que funcione de forma mais lenta e que eu posso acompanhar o
próprio processo, não deixa de ser um processo mental a que chamamos razão.
José Saramago,
in Diálogos com José Saramago
sábado, 28 de julho de 2012
Balada do louco, com Os Mutantes
Dizem que sou
louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
E não é feliz, não é feliz.
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu.
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz.
E não é feliz, não é feliz.
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu.
Sim, sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz.
E não é feliz, eu sou feliz.
Composição: Arnaldo
Baptista e Rita Lee
É
o primeiro registro da banda após sua dissolução em 1978, gravado na primeira
apresentação da banda, com nova formação, de uma mini turnê pela Inglaterra e EUA.
Os Mutantes é uma banda brasileira de rock psicodélico formada durante o
Tropicalismo no ano de 1966, em São Paulo, por Arnaldo Baptista (baixo,
teclado, vocais), Rita Lee (vocais) e Sérgio Dias (guitarra, baixo, vocais).
Também participaram do grupo Liminha (baixista) e Dinho Leme (bateria).
A
banda é considerada um dos principais grupos do rock brasileiro. Além do
inovador uso de feedback, distorção e truques de estúdio de todos os tipos, os
Mutantes foram os pioneiros na mescla do rock and roll com elementos musicais e
temáticos brasileiros. Outra característica do grupo era a irreverência. Se
antes dos Mutantes, o gênero no Brasil era basicamente imitativo, a partir do
pioneirismo de Arnaldo, Sérgio e Rita, abriu-se o caminho do hibridismo.
Os Mutantes iniciou suas atividades em
1966, como um trio, quando se apresentaram em um programa da TV Record, até
terminar em 1978 com apenas Sérgio Dias como integrante original. Ao longo
destes doze anos, foram gravados nove álbuns - sendo que dois deles, O A e o
Z e Tecnicolor, foram lançados apenas na década de 1990. Foi nessa
década que foi reconhecida no cenário do rock nacional e internacional a
importância dos Mutantes como um dos grupos mais criativos, dinâmicos, radicais
e talentosos da era psicodélica e da história da música brasileira e mundial.
Fonte: Youtube
A felicidade nunca sacia ninguém
“Aqui tens o que posso dizer-te
constantemente, a matéria que poderei estar sempre a debater, pois ambos vemos
à nossa roda inúmeros milhares de pessoas inquietas que, a fim de obterem algo
de altamente nocivo, andam com perseverança a praticar o mal, sempre à procura
de coisas que logo a seguir deixam de lhes interessar, ou mesmo as enchem de
repulsa! Já viste alguém contentar-se com uma coisa que, antes de a obter, lhe
parecia mais que suficiente? A felicidade, ao contrário da opinião corrente,
não é ambiciosa, mas sim modesta, e por isso mesmo nunca sacia ninguém. Tu
pensas que aquilo que satisfaz o vulgo é elevado porque ainda estás longe da
perfeição estoica; para quem a alcançou, tudo isso é absolutamente rasteiro!
Minto: para quem começou a subir até esse nível, pois o ponto que tu pensas ser
já o mais alto não passa de um degrau. Toda a gente é infelizmente confundida
pela ignorância da verdade. Enganada pela opinião vulgar, procura como se
fossem bens certas coisas que, depois de muito penar para as conseguir,
verifica serem nocivas, inúteis ou inferiores ao que esperava. A maior parte
das pessoas sente admiração por coisas que só ao fim de algum tempo se revelam
ilusórias; e assim é que o vulgo toma por bom o que apenas parece grande”.
Sêneca, in Cartas
a Lucílio
sexta-feira, 27 de julho de 2012
O Sonho Olímpico do Barão de Coubertin
"O importante não é vencer, mas competir. E
com dignidade." Esse era o lema do educador francês Pierre de Frédy, mais
conhecido como Barão de Coubertin.
A frase, entretanto, não é de sua autoria: teria
sido pronunciada pelo bispo de Londres em um ato religioso antes dos Jogos de
1908.
Nascido em Paris, no dia 1º de janeiro de 1863, o
Barão de Coubertin era descendente de uma família nobre, cujos antepassados
receberam o título de nobreza do Rei Luís XI, em 1471. Em 1567, um de seus
ascendentes adquiriu o Senhorio de Coubertin, perto de Paris, fazendo com que a
família adotasse o nome da localidade.
Formando na Universidade de Ciências Políticas, o
Barão de Coubertin recusou a carreira militar. Movido por seu ideal pedagógico,
optou por se dedicar à reforma do sistema educacional francês. Em 1892,
apresentou na Universidade Sorbonne, em Paris, um estudo sobre "Os
exercícios físicos no mundo moderno". Na ocasião, mostrou o projeto de
recriar os Jogos Olímpicos, que não foi muito bem aceito.
Mesmo assim, o francês não desistiu. Numa convenção
realizada em 1894 na própria Universidade de Sorbonne, que contou com delegados
de 13 países, o Barão conseguiu a promessa dos gregos de abrigar os primeiros
Jogos Olímpicos da Era Moderna.
O Barão de Coubertin tornou-se, então, uma das mais
importantes personalidades do esporte, mesmo sem ter marcado um único gol ou
único ponto em competições oficiais. Devido a seu empenho, os Jogos Olímpicos
renasceram, após quase 16 séculos de hibernação.
No mesmo ano de 1894 nascia o Comitê Olímpico
Internacional (COI), com o objetivo de organizar a cada quatro anos uma nova
edição dos Jogos, promovendo, assim, a união entre os países.
Certo de que a Grécia havia atingido o domínio da
Idade Antiga por causa do culto ao corpo e ao esporte, Coubertin passou a
pregar a realização dos novos Jogos. O Barão fez visitas aos Estados Unidos, à
Inglaterra e à Prússia tentando fortalecer a ideia, mas quase sempre recebeu um
"não" como resposta.
A primeira edição das Olimpíadas modernas foi
marcada para a primavera de 1896, em Atenas, após o rei Jorge I ceder a cidade
para a realização dos Jogos. A Grécia passava por uma grave crise financeira e
inicialmente seu primeiro-ministro, Charilos Tricoupis, não liberou verbas para
a organização da competição. As Olimpíadas foram salvas graças a uma generosa
contribuição do bilionário arquiteto egípcio Georgios Averoff.
Com o dinheiro de Averoff, os organizadores dos
Jogos puderam reformular Atenas, pavimentando ruas e ampliando a iluminação
pública. Além disso, foram construídos um estádio e um hipódromo para a
disputa.
No dia 6 de janeiro de 1896, finalmente a chama
olímpica pôde brilhar novamente. Recomeçavam os Jogos Olímpicos, com a presença
de 13 países e 311 atletas.
Um pouco antes do início dos Jogos de Atenas, o
Barão de Coubertin assumiu a presidência do Comitê Olímpico Internacional
(COI), cargo que ocupou até 1925. A principal luta do francês foi impedir a
presença de atletas profissionais nas disputas.
O Barão de Coubertin
gastou praticamente toda sua fortuna para colocar em prática o sonho da
Olimpíada. Morreu pobre e isolado, em 2 de setembro de 1937, em Genebra, na
Suíça. Como forma de reconhecimento, seu coração foi transportado para Olímpia,
onde repousa até hoje em um mausoléu.
Fonte:
esporte.uol.com.br
O quadro moral do homem civilizado
Um
autor célebre, calculando os bens e os males da vida humana, e comparando as
duas somas, achou que a última ultrapassa muito a primeira, e que tomando o
conjunto, a vida era para o homem um péssimo presente. Não fiquei surpreendido
com a conclusão; ele tirou todos os seus raciocínios da constituição do homem
civilizado. Se subisse até ao homem natural, pode-se julgar que encontraria
resultados muito diferentes; porque perceberia que o homem só tem os males que
se criou para si mesmo, o que à natureza se faria justiça. Não foi fácil
chegarmos a ser tão desgraçados. Quando, de um lado, consideramos o imenso
trabalho dos homens, tantas ciências profundas, tantas artes inventadas, tantas
forças empregadas, abismos entulhados, montanhas arrasadas, rochedos quebrados,
rios tornados navegáveis, terras arroteadas, lagos cavados, pantanais
dissecados, construções enormes elevadas sobre a terra, o mar coberto de navios
e marinheiros, e quando, olhando do outro lado, procuramos, meditando um pouco
as verdadeiras vantagens que resultaram de tudo isso para a felicidade da
espécie humana, só nos podemos impressionar com a espantosa desproporção que
reina entre essas coisas, e deplorar a cegueira do homem, que, para nutrir o
seu orgulho louco, não sei que vã admiração de si mesmo, o faz correr
ardorosamente para todas as misérias de que é suscetível e que a benfazeja
natureza havia tomado cuidado em afastar dele.
Os
homens são maus, uma triste e contínua experiência dispensa a prova;
entretanto, o homem é naturalmente bom, creio havê-lo demonstrado. Que será,
pois, que o pode ter depravado a esse ponto, senão as mudanças sobrevindas na
sua constituição, os progressos que fez e os conhecimentos que adquiriu? Que se
admire quanto se queira a sociedade humana, não será menos verdade que ela
conduz necessariamente os homens a se odiarem entre si à proporção do crescimento
dos seus interesses, a se retribuir mutuamente serviços aparentes, e a se fazer
efetivamente todos os males imagináveis. Que se pode pensar de um comércio em
que a razão de cada particular lhe dita máximas diretamente contrárias àquelas
que a razão pública prega ao corpo da sociedade, e em que cada um tira os seus
lucros da desgraça do outro? Não há, talvez, um homem abastado ao qual os seus
herdeiros ávidos, e muitas vezes os seus próprios filhos, não desejem a morte,
secretamente. Não há um navio no mar cujo naufrágio não constituísse uma boa
notícia para algum negociante; uma só casa que um devedor de má fé não quisesse
ver queimada com todos os documentos; um só povo que não se regozijasse com os
desastres dos vizinhos. É assim que tiramos vantagens do prejuízo dos nossos
semelhantes, e que a perda de um faz quase sempre a prosperidade do outro. Mas,
o que há de mais perigoso ainda é que as calamidades públicas são a expectativa
e a esperança de uma multidão de particulares: uns querem as moléstias, outros,
a mortalidade; outros, a guerra; outros, a fome.
(...)
O homem selvagem, quando acabou de comer, está em paz com toda a natureza, e é
amigo de todos os seus semelhantes. Se, algumas vezes, tem de disputar o seu
alimento, não chega nunca ao extremo sem ter antes comparado a dificuldade de
vencer com a de encontrar noutro lugar a sua subsistência; e, como o orgulho
não se mistura ao combate, ele termina por alguns socos. O vencedor come e o
vencido vai procurar fortuna noutra parte, e tudo está pacificado. Mas, no
homem da sociedade, é tudo bem diferente; trata-se, primeiramente, de prover ao
necessário, depois, ao supérfluo. Em seguida, vêm as delícias, depois as
imensas riquezas, e depois súditos e escravos. Não há um momento de descanso. O
que há de mais original é que, quanto menos as necessidades são naturais e
prementes, tanto mais as paixões aumentam, e o que é pior, o poder de as
satisfazer. De sorte que, após longas prosperidades, depois de haver devorado
muitos tesouros e desolado muitos homens, o meu herói acabará por tudo
arruinar, até que seja o único senhor do universo. Tal é, abreviadamente, o
quadro moral, senão da vida humana, pelo menos das pretensões secretas do
coração de todo homem civilizado.
Comparai, sem preconceitos, o estado do
homem civilizado com o do homem selvagem, e investigai, se o puderdes, como
além da sua maldade, das suas necessidades e das suas misérias, o primeiro
abriu novas portas à miséria e à morte. Se considerardes os sofrimentos do
espírito que nos consomem, as paixões violentas que nos esgotam e nos desolam,
os trabalhos excessivos de que os pobres estão sobrecarregados, a moleza ainda
mais perigosa à qual os ricos se abandonam, uns morrendo de necessidades e
outros de excessos; se pensardes nas monstruosas misturas de alimentos, na sua
perniciosa condimentação, nos alimentos corrompidos, nas drogas falsificadas,
nas velhacarias dos que as vendem, nos erros daqueles que as administram, no
veneno do vasilhame no qual são preparadas; se prestardes atenção nas moléstias
epidêmicas oriundas da falta de ar entre multidões de seres humanos reunidos,
nas que ocasionam a nossa maneira delicada do viver, as passagens alternadas
das nossas casas para o ar livre, o uso de roupas vestidas ou despidas sem
precauções, e todos os cuidados que a nossa sensualidade excessiva transformou
em hábitos necessários, e cuja negligência ou privação nos custa imediatamente
a vida ou a saúde; se puserdes em linha de conta os incêndios e os tremores de
terra que, consumindo ou derrubando cidades inteiras, fazem morrer os
habitantes aos milhares; em uma palavra, se reunirdes os perigos que todas
essas causas acumulam continuamente sobre as nossas cabeças, sentireis como a
natureza nos faz pagar caro o desprezo que temos dado às suas lições.
Jean-Jacques
Rousseau, in Discurso Sobre a Origem da Desigualdade
quinta-feira, 26 de julho de 2012
O corpo assimila a natureza
“Tal como o corpo assimila coisas de toda
a natureza - vulgares, poluídas ou purificadas por um padre ou por uma visão -
e as converte em destreza ou força, músculo ou suavidade de linhas, curvas e
cor do cabelo, dos lábios e dos olhos, assim também a Alma, por sua vez, tem as
suas funções assimiladoras e pode transformar em nobres pensamentos e elevadas
paixões o que em si mesmo é baixo, cruel e degradante; mais ainda, pode
encontrar nestas a maneira mais digna de afirmação. E muitas vezes pode
revelar-se a si mesma de um modo mais perfeito através daquilo que estava
destinado a destruí-la ou a profaná-la.”
Oscar
Wilde, in De Profundis
quarta-feira, 25 de julho de 2012
5 homens e um piano
As dez mãos
fizeram a música "What Makes You Beautiful", do grupo One Direction,
ficar muito mais interessante!
Julgar segundo a soma
"Não
hás-de julgar segundo a soma. Vens-me dizer que não há nada a esperar daqueles
acolá. São grosserias, gosto do lucro, egoísmo, ausência de coragem, fealdade.
Mas se me podes falar assim das pedras, as quais são rudeza, peso morno e
espessura, já o não podes daquilo que tiras das pedras: estátua ou templo.
Quase nunca vi o ser comportar-se como o teriam feito prever as suas partes. Se
pegares em vizinhos à parte, virás a concluir que cada um deles odeia a guerra
e não está disposto a abandonar o lar, porque ama os filhos e a esposa e as
refeições de aniversário; nem a derramar o sangue, porque é bom, dá de comer ao
cão e faz carícias ao burro, nem a roubar outrem, pois tu bem vês que ele
apenas preza a sua própria casa e puxa o lustro às suas madeiras e manda pintar
as paredes e perfuma o jardim de flores.
E dir-me-ás: ‘Eles representam no mundo o
amor à paz...’ No entanto, o império deles não passa de uma grande terrina onde
se vai cozendo a guerra. E a bondade deles e a doçura deles pelo animal ferido
e a emoção deles à vista de flores não passam de ingrediente de uma magia que
prepara o tilintar das armas, da mesma maneira que aquela mistura de neve, de
madeira envernizada e de cera quente prepara as grandes palpitações do coração,
embora a captura não seja, como nunca é, da essência do laço."
Antoine
de Saint-Exupéry, in Cidadela
terça-feira, 24 de julho de 2012
Três grandes gritos da história
"E os grandes proprietários, que têm que
perder suas terras na primeira transformação, os grandes proprietários, que têm
acesso à história, têm olhos para ler histórias e saber do magno fato: a
propriedade, quando acumulada em muito poucas mãos, está destinada a ser
espoliada. E de fato complementar também: quando uma maioria passa fome e frio,
ela tomará à força aquilo de que necessita. E também o fato gritante, que ecoa
por toda a história: a repressão só conduz ao fortalecimento e à união dos oprimidos.
Os grandes proprietários ignoraram os três grandes gritos da história. A terra
acumulou-se em poucas mãos, o número dos despojados, dos espoliados cresceu, e
todos os esforços dos grandes proprietários orientavam-se no sentido da
repressão. O dinheiro era gasto em armas e gases para proteção das grandes
propriedades, e espiões eram enviados com a missão de descobrir conspiratas
latentes que precisavam ser abafadas. A transformação econômica era ignorada,
planos para a transformação não tomados em consideração; e apenas os meios de
destruir as revoltas eram levados em conta, enquanto as causas das revoltas
permaneciam irremediadas."
Excerto de Vinhas da Ira, de John
Steinbeck
segunda-feira, 23 de julho de 2012
Serenata sem estrelas, com Zeca Baleiro
Só como um
cantor
Vejo a noite cair
Debaixo dos meus pés
Como um edifício cai
E eu quisera ter
A música do mar
As frutas do pomar
Antes da chuva vir.
Vejo a noite cair
Debaixo dos meus pés
Como um edifício cai
E eu quisera ter
A música do mar
As frutas do pomar
Antes da chuva vir.
No out-door luminoso
A vida a mentir
Nenhuma estrela mais perto dos olhos
Ninguém
Ecos de um rádio antigo
Eu penso ouvir
Um cigarro um segredo e nada além.
A vida a mentir
Nenhuma estrela mais perto dos olhos
Ninguém
Ecos de um rádio antigo
Eu penso ouvir
Um cigarro um segredo e nada além.
Quanto mais ando mais perco
Teu rastro armadilha na estrada sem fim
Choro em silêncio a dor
Sofro mas nem a lua tem pena de mim
Sei mais caminhos que os meus sapatos
Na escuridão esperava por ti
Mas ontem rasguei teu retrato
Te matei e dormi.
Teu rastro armadilha na estrada sem fim
Choro em silêncio a dor
Sofro mas nem a lua tem pena de mim
Sei mais caminhos que os meus sapatos
Na escuridão esperava por ti
Mas ontem rasguei teu retrato
Te matei e dormi.
Nunca o presente é o nosso fim
“Nunca
nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para
lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter:
tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não
pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não
são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o
presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e
se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e
pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que
não temos garantia alguma de chegar.
Examine cada um os seus pensamentos, e
há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos
no presente; e, se pensamos, é apenas para a luz dele dispormos o futuro. Nunca
o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro.
Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser
felizes, é inevitável que nunca o sejamos".
Blaise
Pascal, in Pensamentos
sábado, 21 de julho de 2012
Meninos, eu (ou)vi: Octo Voci. Bravíssimo!*
Fotos: Elilson Batista
*Belíssimo
Show Vestindo Beatles, com o Grupo
Vocal Octo Voci, e banda, ontem, no
Teatro Dix-Huit Rosado. A obra dos Beatles sendo revisitada com talento: de arrepiar os naipes de vozes, à capela, em Michelle e Yesterday.
Inventar o próprio destino
“A
nossa vida, como repertório de possibilidades, é magnífica, exuberante,
superior a todas as historicamente conhecidas. Mas assim como o seu formato é
maior, transbordou todos os caminhos, princípios, normas e ideais legados pela
tradição. É mais vida que todas as vidas, e por isso mesmo mais problemática.
Não pode orientar-se no pretérito. Tem de inventar o seu próprio destino.
Mas
agora é preciso completar o diagnóstico. A vida, que é, antes de tudo, o que
podemos ser, vida possível, é também, e por isso mesmo, decidir entre as
possibilidades o que em efeito vamos ser. Circunstâncias e decisão são os dois
elementos radicais de que se compõe a vida. A circunstância – as possibilidades
– é o que da nossa vida nos é dado e imposto. Isso constitui o que chamamos o
mundo. A vida não elege o seu mundo, mas viver é encontrar-se, imediatamente,
em um mundo determinado e insubstituível: neste de agora. O nosso mundo é a
dimensão de fatalidade que integra a nossa vida.
Mas
esta fatalidade vital não se parece à mecânica. Não somos arremessados para a
existência como a bala de um fuzil, cuja trajetória está absolutamente
pré-determinada. A fatalidade em que caímos ao cair neste mundo – o mundo é
sempre este, este de agora – consiste em todo o contrário. Em vez de impor-nos
uma trajetória, impõe-nos várias e, consequentemente, força-nos... a eleger.
Surpreendente condição a da nossa vida! Viver é sentir-se fatalmente forçado a
exercitar a liberdade, a decidir o que vamos ser neste mundo. Nem num só instante
se deixa descansar a nossa atividade de decisão. Inclusive quando desesperados
nos abandonamos ao que queira vir, decidimos não decidir.
É, pois, falso dizer que na vida ‘decidem
as circunstâncias’. Pelo contrário: as circunstâncias são o dilema, sempre
novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso caráter.”
Ortega
y Gasset, in A Rebelião das Massas
sexta-feira, 20 de julho de 2012
Epigrama
Se Deus, tal
como Satanás, procura
As almas
aliciar... porque deixa ao pecado
Esse caminho
suave, essa fatal doçura
E faz do bem um fruto amargo e indesejado?
Mário Quintana, in Espelho mágico
Quando é necessário romper uma amizade
“Sucede,
também, como por calamidade, que algumas vezes é necessário romper uma amizade:
porque passo agora das amizades dos sábios às ligações vulgares. Muitas vezes
quando os vícios se revelam num homem, os seus amigos são as suas vítimas como
todos os outros: contudo é sobre eles que recai a vergonha. É preciso, pois,
desligar-se de tais amizades —, afrouxando o laço pouco a pouco e, como ouvi
dizer a Catão, é necessário descoser antes que despedaçar, a menos que se não
haja produzido um escândalo de tal modo intolerável, que não fosse nem justo
nem honesto, nem mesmo possível, deixar de romper imediatamente.
Mas
se o caráter e os gostos vierem a mudar, o que acontece muitas vezes; se algum
dissentimento político separar dois amigos (não falo mais, repito-o, das
amizades dos sábios, mas das afeições vulgares), é preciso tomar cuidado em,
desfazendo a amizade, não a substituir logo pelo ódio. Nada mais vergonhoso,
com efeito, que estar em guerra com aquele que se amou por muito tempo.
(...)
Apliquemo-nos, pois, antes de tudo, em afastar toda a causa de ruptura: se,
contudo, acontecer alguma, que a amizade pareça antes extinta do que
estrangulada. Temamos, sobretudo, que ela não se transforme em ódio violento,
que traz sempre consigo as querelas, as injúrias, os ultrajes. Por nós,
suportemos esses ultrajes quanto forem suportáveis e prestemos esta homenagem a
uma antiga amizade, de modo que a culpa caiba a quem os faz e não àquele que os
sofre.
Mas
o único meio de evitar e prevenir todos os aborrecimentos é não dar a nossa
afeição nem muito depressa, nem a pessoas que não são dignas.
São
dignos da nossa amizade aqueles que trazem consigo os meios de se fazer amar.
Homens raros! De resto, tudo que é bom é raro e nada é mais difícil do que
achar alguma coisa que seja em seu gênero perfeita em tudo. Mas a maior parte
dos homens não conhece nada de bom nas coisas humanas senão o que lhes
interessa e tratam seus amigos como aos animais, estimando mais aqueles de quem
esperam recolher mais proveito.
Também são eles privados dessa amizade
tão bela e tão natural, por si mesma tão desejável; e o seu coração não lhes
faz compreender qual é a natureza e a grandeza de tal sentimento. Cada um
ama-se a si mesmo, não para exigir prêmio da sua própria ternura, mas porque
naturalmente a sua própria pessoa lhe é cara. Se não existe alguma coisa de
semelhante na amizade, não se achará nunca um verdadeiro amigo; porque um
amigo, é um outro nós mesmos.”
Marcus
Cícero, in Diálogo sobre a Amizade
quinta-feira, 19 de julho de 2012
DoSol inaugura hoje sua sede em território mossoroense
Um
abrigo para o rock - e outras sonoridades - na maior cidade do oeste potiguar.
O Centro Cultural DoSol abre hoje a sua sede em Mossoró, estabelecendo uma
firme rede de contatos, projetos e parcerias entre os espaços natalense e
mossoroense. O novo ambiente está localizado no corredor cultural da cidade,
quase em frente ao Teatro Municipal Dix-Huit Rosado, contando com estrutura
para shows, estúdio, quarto de hóspedes e escritório.
Novo palco para o rock: Camarones Orquestra Guitarrística toca hoje para convidados da abertura
"O DoSol mossoroense é um espaço multiuso. Desde os primeiros
trabalhos que fazíamos em Mossoró a gente sentia como era difícil agendar shows
por falta de um espaço. Resolvemos trazer nosso know-how sobre mercado,
estrutura e produção para incrementar o cenário musical local", diz o
produtor Anderson Foca. O prédio de dois andares conta com espaço climatizado
estilo pub, balcão de bar, palco com som e luz, escritório, quarto de
hospedagem (para até seis pessoas), e estúdio de ensaio e gravações. O
local é totalmente fechado para não infringir leis ambientais.
Para a primeira semana de abertura, a trilha sonora já apresentará o que
o público quer ouvir. Nesta quinta, a Camarones Orquestra Guitarrística fará as
honras da casa, a partir das 21h, tocando seu dançante rock instrumental; a
festa será para convidados, imprensa e a comunidade cultural da cidade. No
sábado será a vez da "prata da casa" roqueira de Mossoró tocar, com a
DeserTour ao som de Red Boots, High Desert, Monster Coyote e Dead Pixel. E no
domingo terá a Metal Mossoró, com as bandas Sodoma (PB) e Kataphero (RN), além
de discotecagem só com músicas do Slayer.
O DoSol mossoroense não funcionará como uma simples filial da natalense,
segundo Anderson Foca. "Mossoró terá uma equipe fixa que cuidará dos
interesses da cidade, e nós ficaremos em um bate-bola constante. Eles terão
gestão de espaço, direção executiva e agendas independentes das natalenses. É
importante que a sede tenha as características da cidade", ressalta.
Foca afirma que o público ainda não é tão numeroso
quanto o de Natal, mas o cenário autoral mossoroense é profissional, ativo e
diverso. O centro cultural deve ficar aberto todos os dias da semana para uso
de estúdio e do quarto de hóspedes - que poderão ser locados de acordo com as
necessidades dos artistas. O pub vai abrir de quinta a sábado com programação
de shows, discotecagens, festas temáticas e exibições de filmes e
documentários.
Fonte: www.tribunadonorte.com.br
Estão todas as verdades à espera em todas as coisas
Estão todas as verdades
à espera em todas as coisas:
não apressam o próprio nascimento
nem a ele se opõem,
não carecem do fórceps do obstetra,
e para mim a menos significante
é grande como todas.
(Que pode haver de maior ou menor
que um toque?)
Sermões e lógicas jamais convencem
o peso da noite cala bem mais
fundo em minha alma.
(Só o que se prova
a qualquer homem ou mulher,
é que é;
só o que ninguém pode negar,
é que é.)
Um minuto e uma gota de mim
tranquilizam o meu cérebro:
eu acredito que torrões de barro
podem vir a ser lâmpadas e amantes,
que um manual de manuais é a carne
de um homem ou mulher,
e que num ápice ou numa flor
está o sentimento de um pelo outro,
e hão-de ramificar-se ao infinito
a começar daí
até que essa lição venha a ser de todos,
e um e todos nos possam deleitar
e nós a eles.
Walt Whitman, in Leaves of Grass (Folhas de Relva)
A Inspiração e o Trabalho
“Um leigo pensaria que, para criar, é
preciso aguardar a inspiração. É um erro. Não que eu queira negar a importância
da inspiração. Pelo contrário, considero-a uma força motriz, que encontramos em
toda a atividade humana e que, portanto, não é apenas um monopólio dos
artistas. Essa força, porém, só desabrocha quando algum esforço a põe em
movimento, e esse esforço é o trabalho.”
Igor
Feodorovitch Stravinski
Sobre a Sabedoria
“Se
desejas ser bem sucedido, resigna-te, caro, face às coisas exteriores, por
passar por insensato ou mesmo por tolo. Mesmo que saibas, não mostres qualquer
saber; e se alguns te consideram alguém, desafia-te a ti próprio e desconfia de
ti. Que saibas sempre, na verdade, que não é fácil de preservar a vontade em
conformidade com a natureza, pois que, simultaneamente, sempre nos inquietamos
com as solicitações do exterior.
Ora, que fazer? Só uma regra necessária se impõe: quando nos ocupamos da vontade
tendo a natureza por fundo (e nossa íntima intenção) só a uma coisa nos podemos
obrigar: evitar qualquer desvio daquele nosso primeiro propósito”.
Epicteto, in Manual
quarta-feira, 18 de julho de 2012
Lançamento do livro: Luís Gomes - um Resgate Histórico
Na
próxima sexta-feira será lançado no Cine Clube Municipal da cidade de Luís
Gomes - RN o livro "Luís Gomes - Um Resgate Histórico", organizado
por Caio César Muniz. O evento acontecerá a partir das 20:00h.
O beijo
todo mundo precisa de beijo
o ascensorista a vitrinista
o judoca o playboy
o zagueiro o bombeiro o hidrante
o hidrante precisa também
de cuidados água farta
analgésicos e dinheiro
todo mundo precisa de dinheiro
o maracanã o pavilhão de são cristóvão
o cristo a pedra da gávea o dois irmãos
quem não precisa de dinheiro?
todo mundo precisa de beijo
Cacasoo judoca o playboy
o zagueiro o bombeiro o hidrante
o hidrante precisa também
de cuidados água farta
analgésicos e dinheiro
todo mundo precisa de dinheiro
o maracanã o pavilhão de são cristóvão
o cristo a pedra da gávea o dois irmãos
quem não precisa de dinheiro?
todo mundo precisa de beijo
O clamor pela Justiça de Simón Bolívar
A
história americana registra um episódio que, pelo seu alto valor humano, indica
até que ponto pode chegar o clamor pela justiça.
Roma.
Ano de 1805. Uma ensolarada tarde de outubro. Dois homens galgam lentamente a
colina do Monte Sagrado. Um deles é jovem, esguio, e o cenho carregado não
esconde a beleza dos traços de origem crioula. O outro, menos jovem, menos
alto, ombros curvados e cabelos grisalhos ao vento. Caminham em silêncio.
Dir-se-ia que há dentro deles um vulcão prestes a explodir. Chegam ao cimo.
Ambos contemplam a cidade dos Césares e dos deuses. Há, no olhar do jovem, um
misto de mágoa e desafio. Seus olhos procuram algo, pousam demoradamente no
Ocidente e, súbito, cai de joelhos e brada solenemente:
“Juro
pelo Deus de meus antepassados; juro pelos meus antepassados; juro pelo meu
país natal, que não permitirei que minhas mãos permaneçam ociosas, nem minha
mente em repouso, enquanto não livrar minha pátria das algemas que a escravizam
à Espanha!”.
Esse
jovem era Simón Antonio Jose de La Santíssima Trinidad Bolívar y Palacios, o
libertador de seis nações americanas. Tinha, então, 21 anos de idade. O outro,
seu mestre, Simon Rodrigues. Somente o mestre e o céu da Itália testemunharam
essa promessa.
Um jovem recorre aos céus e à força de
uma promessa para proporcionar justiça a um povo. A consciência da lesão
sofrida, como indivíduo e como membro de uma comunidade, e a certeza de que não
há um poder constituído para distribuir a justiça (ao contrário, a lesão parte
justamente daquele poder cuja autoridade não pode ser reconhecida, porque foi
imposta pela força, sendo espoliadora dos bens materiais e espirituais de sua
gente, por mais de 300 anos) fundamentam o clamor. Clamor transformado na
promessa que o mundo, assombrado, viu cumprir-se 20 anos depois.
Damásio
de Jesus, in Justiça: Valor Absoluto
terça-feira, 17 de julho de 2012
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Dizem as paredes - 2
Em Buenos Aires, na ponte da Boca: Todos prometem e ninguém cumpre. Vote em
ninguém.
Em Caracas, em tempos de crise, na
entrada de um dos bairros mais pobres:
Bem-vinda,
classe média.
Em Bogotá, pertinho da Universidade
Nacional:
Deus
vive.
Embaixo, com outra letra:
Só
por milagre.
E também em Bogotá:
Proletários
de todos os países, uni-vos!
Embaixo, com outra letra:
(Último
aviso).
Eduardo Galeano, in O livro dos abraços
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