Aproveitando
essa onda reaça que tá supermegatendência, a gente está lançando
toda uma coleção pra você, jovem reacionário, que quer gastar o
dinheiro que herdou honestamente na nossa sociedade tão
meritocrática — tirando os impostos, é claro. Pode guardar a
camiseta fedida do Che Guevara e raspar essa barba de Fidel. A moda
guerrilheira é muito 2002. Quem tá com tudo neste outono é o jovem
reaça. A moda é cíclica, gatinhos! Nesta estação, vamos
aproveitar o aniversário da revolução democrática e tirar do
armário a fardinha verde-oliva do vovô. E o melhor: não precisa
nem limpar as manchas de sangue. Superorna.
O
último grito do outono fascistão é defender os valores
tradicionais e ressuscitar velhos chavões: direitos humanos para
humanos direitos, bandido bom é bandido morto, Deus não fez Adão e
Ivo. Nossa coleção — que será lançada amanhã, no prédio do
DOI-Codi — foi feita pensando em você, cidadão de bem, branco,
católico, heterossexual, rico, com as pernas no lugar, funcionando
direitinho. Você é o homem da minha coleção. Olha só este soco
inglês: é a sua cara. Vestiu bem, homem da minha coleção. Combina
com sua correntinha.
O
homem da minha coleção anda armado e se algum veado vier dar em
cima ele diz que atira na testa. O homem da minha coleção transa
com travesti mas se arrepende logo em seguida e enche a bicha de
porrada. O homem da minha coleção casou na igreja com a mulher da
minha coleção num casamento celebrado pelo padre da minha coleção,
homofóbico, racista e com um sotaque ininteligível, apesar de nunca
ter saído do Brasil.
A
mulher da minha coleção critica periguetes porque elas não se dão
valor — chama isso de feminismo. Saia curta, nem pensar. “Depois
reclama quando é estuprada…” A mulher da minha coleção acha
que mulher gorda devia evitar sair de casa. “Ninguém é obrigado a
ver gente obesa.” A mulher da minha coleção finge que não sabe
que é traída pelo homem da minha coleção e se vinga estourando o
limite do cartão de crédito do homem da minha coleção, que por
sua vez finge que não sabe e se vinga saindo com outras mulheres da
minha coleção.
Nosso
it boy, claro, é o coronel Paulo Malhães, torturador chiquetésimo
que deu depoimento à Comissão da Verdade usando uns puta óculos
escuros Prada de aro dourado e assumiu ter perdido a conta de quantos
cadáveres ocultou. Divo. Viva a revolução — democrática.
Gregório Duvivier, in Put some farofa
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