segunda-feira, 25 de julho de 2022

A voz do morro | Zé Kéti, 1955


Primeiro grande sucesso do carioca Zé Kéti (José Flores de Jesus, 1921-1999), este samba empolgante foi gravado por Jorge Goulart, com arranjo de Radamés Gnattali, para a trilha sonora do filme Rio 40 graus, e se tornou um hit nacional.
O filme de Nelson Pereira dos Santos, produzido em 1955 e marco fundador do Cinema Novo, em que Zé Kéti também trabalhou como ator, consagrou a canção de melodia arrebatadora, embalando a letra que remete a uma sintética autobiografia do gênero. “Eu sou o samba / A voz do morro sou eu mesmo, sim, senhor…”, anuncia-se nos primeiros versos, para, na segunda estrofe, contrariar as teses e polêmicas sobre sua origem baiana: “Sou natural daqui do Rio de Janeiro.”
Sim, foi decisiva a contribuição dos sambas de roda do Recôncavo Baiano no começo do século XX, mas foi no Rio de Janeiro, a partir do início dos anos 1930, com Noel Rosa, Pixinguinha, Ismael Silva e demais bambas do Estácio, que o samba ganhou o seu formato urbano, distanciando-se do maxixe, do coco, do samba de roda e demais manifestações rurais. Carioca por adoção e formação, por meio do disco e do rádio o samba se espalhou pelo Brasil.
Zé Kéti começou a mostrar seus talentos no início dos anos 1940, no seleto grupo de compositores da poderosa Portela e, antes de emplacar seu primeiro sucesso com “A voz do morro”, teve sambas gravados por Linda Batista, Ciro Monteiro, Jamelão e Garotos da Lua. Em 1962, Zé Kéti começou a subir aos palcos com o grupo que idealizou, homônimo do seu maior sucesso. Uma primeira formação de A Voz do Morro incluiu dois outros grandes mestres, Nelson Cavaquinho e Cartola. A formação que se consolidou um ano depois chegou a gravar um LP, reunindo Zé Kéti, os então garotos Paulinho da Viola e Elton Medeiros, mais Zé Cruz, Anescarzinho e Oscar Bigode.
Além de “A voz do morro”, que décadas depois recebeu uma interpretação luxuosa de Luiz Melodia, Zé Kéti também compôs os clássicos “Opinião”, “Diz que fui por aí” e o belíssimo samba de carnaval “Mascarada”, regravado por Emílio Santiago.
A partir de 1964, quando participou do espetacular sucesso do show Opinião, ao lado da ex-musa da bossa nova que se tornara musa da oposição, Nara Leão (um ano depois substituída por uma baiana de 19 anos, Maria Bethânia), e do maranhense João do Vale, Zé Kéti foi um dos responsáveis pela volta do samba às paradas de sucesso. A voz do morro era ele mesmo, sim senhor.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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