sábado, 27 de abril de 2019

Pobreza da sabedoria

Odeio os sábios por sua complacência, sua covardia e sua reserva. Amo infinitamente mais as paixões devorantes do que o humor equilibrado, que torna um homem insensível tanto ao prazer quanto à dor. O sábio ignora o trágico da paixão e do medo da morte, assim como desconhece o élan e o risco, o heroísmo bárbaro, grotesco ou sublime. Ele expressa-se por meio de máximas e dá conselhos. O sábio nada vive, nada sente, nem deseja ou espera. Ele regozija-se em nivelar diversos conteúdos da vida e a assumir-lhes as consequências. Muito mais complexos parecem-me aqueles que, apesar deste nivelamento, não param de se atormentar. A existência do sábio é vazia e estéril, pois desprovida de antinomias e desespero. As existências devoradas pelas contradições intransponíveis são infinitamente mais fecundas. A resignação do sábio vem do vazio, e não do fogo interior. Eu preferiria mil vezes morrer deste fogo do que do vazio e da resignação.
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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