segunda-feira, 4 de junho de 2018

Prólogo de Zaratustra - 10

Isso falou Zaratustra ao seu coração, quando o sol se achava no meio-dia: então olhou para o céu, indagador — pois ouvia no alto o grito agudo de um pássaro. E eis que uma águia fazia vastos círculos no ar, e dela pendia uma serpente, não como uma presa, mas como uma amiga: pois estava enrodilhada em seu pescoço.
Estes são meus animais!”, disse Zaratustra, e alegrou-se com todo o coração.
O mais orgulhoso animal sob o sol e o prudente animal sob o sol — eles saíram em exploração.
Querem ver se Zaratustra ainda vive. Ainda vivo, em verdade?
Achei mais perigo entre os homens do que entre os animais, caminhos perigosos segue Zaratustra. Que meus animais me conduzam!”
Ao dizer isso, Zaratustra lembrou-se das palavras do santo na floresta, suspirou e assim falou ao seu coração:
Pudera eu ser mais prudente! Pudera eu ser prudente por natureza, como minha serpente!
Mas peço algo impossível; então peço a meu orgulho que sempre acompanhe minha prudência!
E, se algum dia minha prudência me abandonar: — oh, ela gosta de bater asas! —, que meu orgulho, então, ainda voe juntamente com minha tolice!
Assim começou o declínio de Zaratustra.
Friedrich Nietzsche, in Assim falou Zaratustra

Nenhum comentário:

Postar um comentário