terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O homem do botão

Quando esta velha nave espacial do mundo for um dia a pique
Não haverá iceberg nenhum que o explique...
Apenas um de nós, em desespero
como quem se livra de terrível dor de cabeça -
com uma bala rápida no ouvido -
Vai apertar primeiro o botão:
Clic!
Tão simples... E os mais espertos venderão,
A preços populares arquibancadas na Lua
Ou caríssimos camarotes de luxo
Para que possam todos assistir à nossa ÚLTIMA FUNÇÃO.
O perigo
É que a arquibancada desabe
Ou que a própria Lua venha a cair no caldeirão fervente.
Enquanto isso, Deus, que afinal é clemente,
Põe-se a cogitar na criação em outro mundo,
De uma nova humanidade
- sem livre-arbítrio -
Principalmente sem livre-arbítrio...
Mas com esse puro instinto animal
Que o homem do botão atribuía apenas às espécies inferiores.
Mário Quintana

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