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Onde
estive eu, durante esse tempo imenso, bilhões de anos, que vão do
big bang até o meu nascimento? Os religiosos vão dizer que
estive no céu, alma desencarnada, à espera do meu nascimento. Eles
não entenderam a minha pergunta. Quando digo “eu” estou me
referindo a uma memória que esse bolso chamado “eu” guarda
dentro de si. O fato é que, desses bilhões de anos, não tenho a
menor memória. Se tivesse, eu teria memória também da enorme
espera – eu, esperando durante bilhões de anos... Mas não. Para
mim, o mundo foi criado quando eu nasci. O big bang aconteceu
para mim quando minha mãe me pariu. Foi grande a demora? Custou-me
esperar bilhões de anos? Não. Foi menos que um segundo. E agora,
que a morte se aproxima, sei que vou voltar para o lugar onde estive.
De novo, a espera vai ser grande? Não. Não esperarei mais que um
segundo... Como disse o poeta ao Menino Jesus: “Até que nasça
qualquer dia que tu sabes qual é...”.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
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