quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Imprastifique...

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Dizem que o poeta Luiz Campos, grande expoente da cantoria, recentemente falecido, tinha um irmão que elegeu-se vereador por Mossoró. Chamava-se Vicente e era chegado a uma farra. Quem me repassou o episódio em questão foi o poeta Kydelmir Dantas, durante agradável libação no ‘Sêbado’ de Mossoró. O Sêbado é uma mistura de bar e sebo de livros e discos que funciona preferencialmente aos sábados, daí a originalidade de seu nome. O vereador fora convidado para um animado leilão de Santa Luzia, padroeira de Mossoró e aboletou-se numa mesa disposto a comer e beber do bom e do melhor. Toda vez que um adversário dava um lance no leilão ele dobrava a oferta, só para inflacionar.
Ao arrematar uma grade de cerveja e uma galinha cheia a preço exorbitante, o padre ficou deveras animado com a sua generosidade e até aconselhou algumas paroquianas solteiras e de procedência duvidosa a fazer companhia a Vicente, prevendo, com sobrada razão, que a presença feminina seria um poderoso estímulo para abertura desregrada das torneiras de sua generosidade. Não deu outra! Animado pela presença das meninas, Vicente gastou o que tinha e o que não tinha. No final da festa, estava devendo mais de cinco mil reais à paróquia, tudo devidamente anotado pelo vigário numa caderneta. Ao ser apresentada a ‘dolorosa’, Vicente não se fez de rogado e sacou imediatamente de seu talão de cheques do Banco do Brasil, arredondando a cifra para R$ 6 mil. Datou, assinou e entregou ao sacerdote, que não cabia em si de tanta felicidade.
No dia seguinte, por volta das 10 e meia da manhã, via-se o padre caminhar visivelmente nervoso e agitado rumo à casa de Vicente. Ao bater na porta deparou com uma cena previsível… Calças penduradas nos armadores, calcinhas femininas espalhadas pelo chão e o Vicente de ressaca, só de cueca numa rede, com uma de suas paroquianas. O padre foi direto ao assunto:
- Vicente, rapaz, como é que você faz uma coisa dessa criatura?! Isso é um completo absurdo!
- O que foi, padre? Num tô lhe entendendo… Eu num lhe dei o cheque, home de Deus?
- Deu… mas deu um cheque cruzado, predatado para o ano que vem e NOMINAL à Santa Luzia! O que é que eu faço com o diabo desse cheque???
Vicente bocejou, espreguiçou-se na fianga, enquanto a jovem que o acompanhava fugia enrolada no lençol para o banheiro, com cerimônia do vigário. O malandro demorava-se na resposta. O padre insistiu:
- Me diga, homem de Deus, o que diabo eu vou fazer com a porra desse cheque?
Vicente deu-lhe uma resposta fulminante:
- Imprastifique!… Imprastifique senão o senhor perde!
Arievaldo Viana, in Sertão gaiato

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