quinta-feira, 30 de junho de 2011

Boa pessoa



Se você dormiu bem
se você comeu bem
se você quer o bem
de uma boa pessoa;
Nessas manhãs de frio
quando a geada pinta a grama
e o azul do céu, é de uma beleza que caçoa;
Quando o nada te faria tirar o pijama
não fosse o vento que vai lá fora
é a voz do teu amor que chama agora
E você vem ...
Laraiá, laraiá, laraiá.

“A nossa percepção é toldada pelos óculos sociais que a cultura e a sociedade vão preparando para nós”.
Adam Schaff

Passarinho

Elilson e Léo Batista em Pau dos Ferros.

Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas 
nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
 
E deixes que as mãos cálidas da noite 
encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.                                                                          

Vinicius de Moraes

            "Aceito o mesmo Deus que Spinoza chama Alma do Universo. Não aceito um Deus que se preocupa com as nossas necessidades pessoais".
Albert Einstein

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Yahoo! Autos

Yahoo! Autos

Leiam no link reportagem que explica porque o brasileiro paga o carro mais caro do mundo!

Pepeu Gomes - Didilhando (Instrumental)

Charge, de Millôr Fernandes

          “Sem querer, o dedo de Werther toca o dedo de Charlotte, seus pés, sob a mesa, se encontram. Werther poderia se abstrair desses acasos; poderia se concentrar corporalmente sobre essas fracas zonas de contato e gozar esse pedaço de dedo ou de pé inerte, de um modo fetichista, sem se preocupar com a resposta (como Deus é sua etimologia – o Fetiche não responde). Mas precisamente: Werther é perverso, ele está apaixonado: cria sentido, sempre, em toda a parte, de coisa alguma, e é o sentido que o faz arrepiado: ele está no braseiro do sentido. Todo contato, para o enamorado, coloca a questão da resposta: pede-se à pele que responda.
(pressão de mãos – imenso dossiê romanesco -, gesto delicado no interior da palma, joelho que não se afasta, braço estendido, como por acaso, no encosto de um sofá e sobre o qual a cabeça do outro vem pouco a pouco repousar, é a região paradisíaca dos signos sutis e clandestinos: como uma festa, não dos sentidos, mas do sentido)”.
Roland Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso

Poema-piada

Que linda minhoca, exclamou o sapo
avançando para comê-la.
Mas a minhoca abriu a goela
e bocou-o.
Erramos, disse o sapo, era cobra!


Osvald de Andrade


 "A vida é breve, a arte é longa, a ocasião é fugitiva, a experiência é falaz, o julgamento é difícil".
Hipócrates

terça-feira, 28 de junho de 2011

         “Como ciumento sofro quatro vezes: porque sou ciumento, porque me reprovo de sê-lo, porque temo que meu ciúme machuque o outro, porque me deixo dominar por uma banalidade: sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum”.
Roland Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso

Morre o cineasta Gustavo Dahl

Um ataque cardíaco matou nesta segunda o cineasta, crítico e gestor público Gustavo Dahl. Argentino naturalizado brasileiro, Dahl foi ícone do Cinema Novo e atualmente ocupava o posto de gerente do Centro Técnico Audiovisual (CTAV) do Ministério da Cultura. Assistia a um fime na cidade baiana de Trancoso e tinha 73 anos de idade quando sofreu um infarto fulminante.
Diretor de diversos curtas e de três longa-metragens — O Bravo Guerreiro (1968), Uirá, um Índio em Busca de Deus (1973) e Tensão no Rio (1982) —, Dahl trabalhou como montador para realizadores como Paulo Cézar Saraceni e Cacá Diegues, mas ficou nacionalmente conhecido como o primeiro diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e por sua destacável atuação na Embrafilme na década de 1970. Sob sua gestão, a superintência de comercialização do órgão conseguiu fazer com que o cinema brasileiro representasse um terço do mercado nacional, cifra que nunca mais voltou a ser atingida.
Nos anos 60, graças a uma bolsa de estudos, Dahl embarcou para Roma e, no Centro Experimental de Cinematografia da capital italiana, aproximou-se de personalidades como Marco Bellochio e Bernardo Bertolucci. Poucos depois, esteve em Paris e presenciou a consolidação do Cinema-verdade francês.
Dono de uma escrita ácida e politicamente engajada, foi ensaísta e conquistou o posto de um dos mais notáveis teóricos do Cinema Novo. Seus textos foram publicados por diversos jornais do país e em revistas como Civilização Brasileira e “Cahiers du Cinéma“
Na década de 1980, Dahl presidiu a Associação Brasileira de Cineastas, o Conselho Nacional de Cinema (Concine) e o Conselho Nacional de Direitos Autorais.

Da Agência O Globo

Breve: mais borboletas

Foto: Pablo Einstein Batista

O martírio do artista

Arte ingrata! E conquanto, em desalento,
A órbita elipsoidal dos olhos lhe arda,
Busca exteriorizar o pensamento
Que em suas fronetais células guarda!

Tarda-lhe a Ideia! A inspiração lhe tarda!
E ei-lo a tremer, rasga o papel, violento,
Como o soldado que rasgou a farda
No desespero do último momento!

Tenta chorar e os olhos sente enxutos!...
E como o paralítico que, à mingua
Da própria voz e na que ardente o lavra

Febre de em vão falar, com os dedos brutos
Para falar, puxa e repuxa a língua,
E não lhe vem à boca uma palavra!

Augusto dos Anjos

“Persuade-te, pois de que toda situação está sujeita a mudanças e de que tudo o que cai sobre os outros pode igualmente cair sobre ti”.
Sêneca

Partida*

A morte de um filho
é uma gravidez às avessas:
volta pra dentro da gente
para uma gestação eterna.

Aninha-se aos poucos
buscando um espaço
por isso dói o corpo
por isso, o cansaço.

E como numa gestação ao contrário
a dor do parto é a da partida
de volta ao corpo pra acolhida
reviravolta na sua vida.

E já começa te chutando, tirando o sono
mexendo os órgãos, lembrando o dono
que está presente, te bagunçando o pensamento
te vazando de lágrimas e disparando o coração.

A morte de um filho é essa gravidez ao contrário
mas com o tempo, vai desinchando
até se transformar numa semente de amor
e que nunca mais sairá de dentro de ti.



*Poema de Bruno Gouveia, cantor do Biquíni Cavadão, para o filho Gabriel, que faleceu em acidente de helicóptero na Bahia, em 17/06/2011. 
 “Conheço apenas duas belas coisas no universo: o céu estrelado sobre nossas cabeças e a lei moral dentro de nossos corações”.
Kant

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Filosofia


O mundo me condena
E ninguém tem pena
Falando sempre mal do meu nome
Deixando de saber
Se eu vou morrer de sede
Ou se vou morrer de fome.
Mas a filosofia
Hoje me auxilia
A viver indiferente assim.
Nesta prontidão sem fim
Vou fingindo que sou rico
Para ninguém zombar de mim.

Não me interessa
Que você me diga
Que a sociedade
É minha inimiga.
Pois cantando nesse mundo
Vivo escravo do meu samba
Muito embora vagabundo.

Quanto a você
Da aristocracia
Que tem dinheiro
Mas não compra alegria
Há de viver eternamente
Sendo escrava desta gente
Que cultiva hipocrisia.

Noel Rosa

Não te amo mais

Não te amo mais
Estarei mentindo se disser que
Ainda te quero como sempre quis.
Tenho certeza de que
Nada foi em vão.
Sei dentro de mim que
Você não significa nada.
Não poderia dizer nunca que
Alimento um grande amor.
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
EU TE AMO!
Sinto, mas tenho que dizer a verdade:
É tarde demais…

PS.: Poema para ser lido, preferencialmente,  de baixo para cima!!!

Quem é o autor? Poema atribuído à Clarice Lispector 
“Um banco é um estabelecimento que nos empresta um guarda-chuva num dia de sol e nos pede de volta quando começa a chover”.
Robert Frost

3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi.

Osvald de Andrade
“A ignorância é adubo para demagogos e corruptos”.
Avelino Antônio Correia

domingo, 26 de junho de 2011

A busca da razão

           Sofreu muito com a adolescência.
          Jovem, ainda se queixava.
          Depois, todos os dias subia numa cadeira, agarrava uma argola presa ao teto e, pendurado, deixava-se ficar.
          Até a tarde em que se desprendeu esborrachando-se no chão: estava maduro.
Marina Colasanti, in Contos de amor rasgados
 “O amor? Pássaro que põe ovos de ferro”.
 Riobaldo, in Grande Sertão: Veredas 
“Os maiores crimes que afligem a humanidade são cometidos sob falso pretexto de justiça. O maior dos crimes, pelo menos o mais destrutivo, e consequentemente o mais oposto à finalidade da natureza, é a guerra. E, no entanto, não há um agressor que não tinja essa malfeitoria com o pretexto de justiça”.
                                                 Voltaire

Bolero de Isabel




É um nó dado por São Pedro
E arrochado por São Cosme e Damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
É um nó dado por São Pedro
E arrochado por são Cosme e Damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
Quer ver o bom?
É o aguado quando leva açúcar
É ter a cuca, açucarado num beijo roubado
É um pecado confessado, compadre sereno
Levar sereno no terreiro bem enluarado
É pinicado do chuvisco no chão, pinicando
Ficar bestando com o inverno bem arrelampado
É o recado do cabocla num beijo mandando
"tá namorando a cabocla do recado"
É um nó dado por São Pedro
E arrochado por São Cosme e Damião
É uma paixão, é tentação, é um repente
Igual ao quente do miolo do vulcão
Quer ver desejo?
É o desejo tando desejando
A lua olhando esse amor na brecha do telhado
É rodeado do peru peruando a perua
É canarim, é galeguim, é cantando o canário
Zé do Rosário bolerando com Dona Isabel
Dona Isabel embolerando com Zé do Rosário
Imaginário de paixão voraz e proibida
Escapulida, proibida pro imaginário
Quer ver cenário?
É o vermelho da aurodidade
É a claridade amarelada do amanhecer
É ver correr um aguaceiro pelo rio abaixo
É ver um cacho de banana amadurecer
Anoitecer vendo o gelo do branco da lua
A pele nua com a lua a resplandecer
É ver nascer um desejo com a invernia
É a harmonia que o inverno faz nascer
(miolo, miolo, miolo do vulcão...)
Quer ver desejo?
É o desejo tando desejando
A lua olhando esse amor na brecha do telhado
É rodeado do peru peruando a perua
É canarim, é galeguim, é cantando o canário
Zé do rosário bolerando com dona isabel
Dona Isabel embolerando com Zé do Rosário
Imaginário de paixão voraz e proibida
Escapulida, proibida pro imaginário
Quer ver cenário?
É o vermelho da aurodidade
É a claridade amarelada do amanhecer
É ver correr um aguaceiro pelo rio abaixo
É ver um cacho de banana amadurecer
Anoitecer vendo o gelo do branco da lua
A pele nua com a lua a resplandecer
É ver nascer um desejo com a invernia
É a harmonia que o inverno faz nascer.

Composição: Jessier Quirino, na voz de Xangai 
“É de nossos verdadeiros antagonistas que recebemos a coragem sem limites que nos anima”.
Franz Kafka

O novo oráculo

Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.

Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... - mais nada.

Mas a vida, a vida, a vida, 
a vida só é possível
reinventada.

Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.

Não te encontro, não te alcanço...
Só - no tempo equilibrada, 
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só - na treva, 
fico: recebida e dada.

Porque a vida, a vida, a vida, 
a vida só é possível 
reinventada.

Cecília Meireles
“Muitos reclamam contra a violência das águas do rio, mas ninguém fala da violência das margens que o comprimem”.
  Bertolt Brecht  
           “Contar é muito, muito dificultoso. Não pelos anos que já passaram. O que eu falei foi exato? Foi. Mas teria sido? Agora, acho que não”.
Fala de Riobaldo, in Grande sertão: veredas

sábado, 25 de junho de 2011

Por uma educação de qualidade

Por uma educação de qualidade
Arte de Túlio Ratto, in anacadengue.com.br

            “A vida só pode ser compreendida olhando para trás: mas só pode ser vivida olhando para frente”.
Soren Kierkegaard

Sem budismo

Poema que é bom
acaba zero a zero.
Acaba com.
Não como eu quero.
Começa sem.
Com, digamos, certo verso,
veneno de letra,
bolero. Ou menos.
Tira daqui, bota dali,
um lugar, não caminho.
Prossegue de si.
Seguro morreu de velho,
e sozinho.

Paulo Leminski, in Distraídos venceremos
           “Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranquilos e escuros como o sofrimento dos homens.”
João Guimarães Rosa
         “A felicidade é apenas a interrupção temporária de um processo de infelicidade”.
                                                           Schopenhauer  

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Arieta

Chora no meu coração
Como chove na cidade.
Não entendo a lassidão
Que me vem ao coração.

Ó tamborilar da chuva
Sobre o chão e sobre as telhas!
Para uma alma viúva,
Oh, doce canto de chuva!

São lágrimas sem razão
No meu coração cansado.
Ah! Nenhuma traição!
Esta dor não tem razão.

E de tudo a pior dor
É ter, sem saber porque,
Sem ter ódio nem amor,
No coração tanta dor.

Paul Verlaine, tradução de Paulo Mendes Campos
         “A criança vive normalmente com o tempo, integra-se à corrente, como se fosse fundamental à inocência infantil o profundo e repousante desinteresse pela passagem das horas e pela aproximação gradativa da decadência-e-morte. A perda da inocência, da naturalidade ou conformidade com o mundo, equivale a adquirir consciência da velhice e da morte. Perdemos a inocência quando aprendemos a olhar as horas. Mais importante que tudo, o tempo do adulto é um imposto cobrado pela inteligência do mundo, um peso de que fomos libertos na infância e de podemos nos livrar em estados excepcionais de pureza, de contemplação, de prazer, de intoxicação ou de loucura”.

Paulo Mendes Campos, excerto de Sentimento do Tempo, in Trinca de Copas
"Maravilhar-se é o primeiro passo para o descobrimento".
Louis Pasteur

Foto surreal, do sueco Erik Johansson

Sonetos Sacros - VI

É minha última cena, aqui o céu demarca
A última milha para a última caminhada;
E eu sigo a esmo, e às pressas; na última polegada
A andar, o último instante, que o tempo vem e abarca;
E a morte, essa glutona, separará em breve
Meu corpo, e a alma, e vou dormir por longo espaço,
Mas o que não dorme em mim verá então, a um passo,
A face que já temo, e que ninguém descreve;
Então, como minha alma volta ao céu, que a conduz,
E o corpo, que é da terra, na terra vai ficar,
Caem meus pecados – todos a isso é que fazem jus –
No inferno onde os geraram, podendo me arrastar.
Considera-me um justo, limpo do mal imundo,
Que assim deixo o demônio, deixando a carne, o mundo.

John Donne

quinta-feira, 23 de junho de 2011

           “Não é necessário que nossos olhos estejam fixados num dia determinado, numa hora certa, para que saibamos que tudo o que amamos nos será arrancado, ou que seremos arrancados a tudo que amamos”. 
                                                 Claude Roy   
“Sócrates, antes de morrer: ‘Chegou a hora de seguirmos por caminhos diferentes: eu, o da morte, vocês, o da vida. Qual deles é o melhor, somente Deus sabe’”.
Platão, in Apologia

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A alegria é a prova dos nove

“A alegria é a prova dos nove”
Existem vários tipos de músicos e formas de lidar com a música, obviamente de acordo com o talento e as escolhas de cada um. Há compositores diversos que não tocam instrumentos, porém compõem de boca, como se diz, verdadeiros clássicos. Alguns se resolvem em caixinha de fósforo, o que também é uma arte. Ciro Monteiro e Elton Medeiros não me deixam mentir. Que os cigarros desapareçam se for o caso, mas nunca essa chama em pacotinho, promessa de suingue tão brasileiro!
Há os compositores-mestres, que dominam com singularidade seus instrumentos, como por exemplo, João Bosco, Ivan Lins, Chico Buarque, Joyce, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan, Milton Nascimento, Luiz Tatit. Alguns da minha geração, Chico Cesar, Lenine, Moska, Pedro Luis, Zeca Baleiro. Há os compositores-maestros, como Tom Jobim, Radamés Gnatalli, Francis Hime, Edu Lobo. Os dois últimos foram recentemente convidados da OSESP, orquestra paulista , a mais importante da América Latina, para orquestrarem peças próprias, executadas por cordas, madeiras, metais, coro e tudo mais que se espera de uma grande orquestra.Há ainda os autodidatas geniais como Itamar Assumpção ou os sábios irreverentes, como Tom Zé e Jorge Mautner.
A gente sempre esbarra, em algum momento da vida, com aquela antológica foto de Pixinguinha na cadeira de balanço. É muito bonito constatar a relação de um grande músico com seu instrumento. O saxofone é como uma extensão de suas mãos, um link de harmonia com o céu que ele contempla ali. A visão da completude.
Quando ainda morava em Brasília, fui assistir ao Hermeto Pascoal. Reza a lenda (olha ela aí!) que, antes do show, vez em quando, ele invade seu próprio palco e “rouba” as partituras dos músicos . Foi um show que me marcou pra sempre, pois além de vê-lo tocando não só os convencionais instrumentos, tocou chaleira. Isso mesmo, chaleira, aquela que esquenta água pro café. Ao final, foi saindo do palco, em fila indiana com sua banda que, seguida por toda plateia, deu a volta no teatro pelo lado de fora. Nós todos fomos seguindo aquela literal mistura de flautista de Hamelin com Papai Noel, sem questionar, apenas constatando o quanto a vida pode ser surpreendente e alegre. Procurem assistir a um video dele com sua trupe, dentro dágua, soprando uns vidros. É de outro mundo. Hermeto diz que quando você não toca o instrumento, ele te abandona…
Outro mago impressionante é o amado percussionista Naná Vasconcelos. Naná viveu durante muitos anos fora do Brasil, tocou com grandes nomes internacionais. Hoje mora em Olinda, comanda a abertura do carnaval de Recife, entre muitas outras coisas. Naná é envolvido com as nações de maracatu, coisa séria e profunda. Tem vários álbuns gravados e o dom de hipnotizar a platéia e fazê-la cantar sons da natureza. Uma coisa de louco, uma epifania coletiva. Certa feita, num ensaio, ele começou a olhar pro teto e perguntar: “hã?” Todo mundo fez silêncio e ele continuava, “hã? O que? Ah, o suingue? Calma, já tá chegando!” e caiu na gargalhada! E ainda sabe cozinhar esse Naná! Ora, ora, Deus às vezes não é justo!
Mas creio que o primeiro a quem assisti ao vivo foi Egberto Gismonti, que lançou álbuns antológicos pela lendária gravadora ECM. No show, anos 80, ele trazia a novidade de um sintetizador no palco, o tal do OBXA. Tudo parecia vir de outro planeta. Recomendo um álbum em especial, onde ele toca apenas violão, se não me engano, chamado Solo. Não, não, tem o Água e Vinho, ou melhor, um que se chama Palhaço, não, nada disso, fechem os olhos, escolham qualquer um, a viagem é certa.
Tive o privilégio de ver Raphael Rabello e seu sete cordas ao vivo, o que também era uma experiência à parte. O cara tinha um coração em cada mão e uma técnica absurda. E ainda uma característica muito interessante: adorava acompanhar eventualmente uma voz, coisa que não é comum entre vistuosos. Fã incondicional da diva Elizeth Cardoso, gravou com ela - quando ele já era uma grande estrela de seu instrumento -, um álbum vigoroso, apaixonado e não à toa intitulado Todo Sentimento. Ouça e se chorar, saiba que não foi o primeiro e nem será o último.

Tudo isso veio à tona em minha memória porque fui convidada para um “pequeno” sarau, onde Hamilton de Holanda e Yamandu Costa tocariam um arranjo especial de Noel Rosa, para um pequeno grupo de pessoas amigas.
Pra falar de Hamilton e sua obra, que já é vasta, precisaria de um post só pra isso. Assim como Yamandu, esse gaúcho arretado, que já tem estrada e reconhecimento de sobra por aí. Mas os dois juntos causam uma terceira sensação que ficou marcada em quem esteve presente. Eles nos “enganaram”, dizendo, “vamos ensaiar primeiro”! Digo enganaram, porque tudo ali soa encontro, tudo parece certo, até os descaminhos e atalhos. Um olhar aqui, uma franzida de testa ali, uma risada que só eles entendem e lá vem a melodia de Noel, descendo a ladeira, pra subir de novo logo ali. E são desempenhos tão elevados, que tudo parece muito fácil. Parecia que, se eles parassem, a música prosseguiria. E de repente a rainha Alcione, que já tinha cantado e calado tudo que é passarinho, desvenda: “vocês parecem duas crianças!”. Bingo! Alegria de criança! É exatamente isso. O segredo desses dois caras ali, fazendo misérias… e sorrindo, como quem solta uma pipa, ou anda num carrinho de rolimã, cujo freio existe, mas ninguém aciona. Improvisar é meio isso. O freio improvável.
Tive o privilégio de gravar e viajar com Hamilton. Ele foi o único músico até hoje que olhava pra mim, no meio da canção, nós dois marejados de música, enquanto seus dedos não largavam das dez cordas de seu bandolim e sussurrava:” tá lindo!”.
Não posso deixar de pensar que a alegria emocionante do músico brasileiro, que se sente bem resolvido com sua profissão, sempre o vai diferenciar do resto do mundo. Não essa alegria tipo exportação surtada, mas a alegria que foi detectada faz tempo, por Oswald de Andrade. Aquela que não desgruda da gente quando desfrutamos da nossa mistura e quando estamos sendo nós mesmos.
Zélia Duncan, in Revista Piauí n° 57 (junho)
“Jamais sofri uma mágoa que uma hora de leitura não tenha curado”.
Montesquieu

O filho

Que seja assim:
alegre sem desconhecer
a tristeza, capaz
de uma ilusão.
Forte sem apedrejar
derrotas, rebelde,
sem destruir a mansidão.
Servo apenas do ideal e sonho,
e rei de sua vontade.
Amando as pessoas sem
deixar que nenhum medo
o faça desconhecer a liberdade.

Maximiano Campos, escritor e poeta pernambucano
           “A porta da felicidade abre só para o exterior; quem a força em sentido contrário acaba por fechá-la ainda mais”.
Soren Kierkegaard

terça-feira, 21 de junho de 2011

Obaaa!!! A primeira música de trabalho do novo CD de Chico Buarque acabar de vazar na internet



Querido diário

Hoje topei com alguns 
conhecidos meus 
Me dão bom-dia [bom-dia], cheios de carinho; 
dizem para eu ter muita luz 
e ficar com Deus 
Eles têm pena de eu viver sozinho 

Hoje a cidade acordou 
toda em contramão 
Homens com raiva, 
buzinas, sirenes, estardalhaço 
De volta à casa, na rua 
recolhi um cão 
que, de hora em hora, me arranca um pedaço 

Hoje pensei em ter religião 
De alguma ovelha, talvez, 
fazer sacrifício 
Por uma estátua ter adoração 
Amar uma mulher sem orifício 

Hoje, afinal, conheci o amor 
E era o amor, uma obscura trama 
não bato nela, não bato 
nem com uma flor 
mas se ela chora, desejo-me em flama 

Hoje o inimigo veio, 
veio me espreitar 
Armou tocaia lá 
na curva do rio 
Trouxe um porrete, um porrete a "mode" me quebrar 
mas eu não quebro não, porque sou macio, viu?!

Homem rouba US$ 1 em banco para poder fazer tratamento médico na cadeia*

James Verone deve começar seu tratamento em breve
Um homem roubou US$ 1 em um banco, na Carolina do Norte (EUA), para poder ser preso e ter tratamento médico na cadeia, segundo o jornal “Gaston Gazette”.
James Verone, de 59 anos, invadiu o banco e entregou um bilhete em que dizia estar armado e querer US$ 1. Após o “roubo”, o ladrão saiu do local, sentou-se em uma cadeira na calçada e esperou a chegada da polícia.
“Eu disse para o atendente que esperaria pela polícia. Queria deixar claro que não cometi o crime por razões financeiras, mas por razões médicas”, disse Verone a um canal de TV.
 O ladrão poderia ser solto se pagasse a fiança de US$ 2.000, mas como sente muitas dores no peito e tem um problema no pé esquerdo, escolheu ir preso para passar por um tratamento médico na cadeia. 
“A dor que eu sinto já passou o nível tolerável que eu aguentaria”, contou.
Verone calculou que, ao cometer um crime não violento, poderia, até mesmo, garantir alguns benefícios sociais do governo quando saísse da cadeia.
“Sou uma pessoa muito lógica e fiz tudo isso de maneira calculada”, explicou Verone.
O ladrão já está preso e deve começar seu tratamento médico em poucos dias. 
Na cadeia, Verone costuma tomar café-da-manhã e almoçar, mas evita jantar para não ter muito contato com os outros presos. 
"Tentei todas as alternativas. Por isso, não me arrependo", afirmou.

In noticias.uol.com.br
*Meu Deus, a que ponto chegaram os americanos, no país mais rico do mundo! Mas esse é o sistema capitalista: se você tem dinheiro, tem acesso ao mercado de consumo (não esqueçamos que a saúde é tratada como tal), em um dos mais cruéis sistemas de saúde do mundo. E a dignidade desse senhor, perguntaríamos. E, antes, a dignidade desse e de todos os governos? E ainda reclamamos do nosso SUS.
Elilson José Batista