As carruagens
Voltaram as carruagens às largas ruas
do México.
Há mais de vinte anos, o ascético
Felipe II as tinha proibido. Dizia o decreto que o uso do carro
apoltrona os homens e os acostuma à vida mansa e preguiçosa; e que
assim perdem músculos para a arte da guerra.
Morto Felipe II, as carruagens reinam
novamente nesta cidade. Por dentro, sedas e cristais; por fora, ouro
e o brasão na portinhola. Soltam aroma de madeiras finas e rodam com
andar de gôndola e balançar de berço; atrás das cortinas
cumprimenta e sorri a nobreza colonial. No pescante alto, entre
franjas e bolas de seda, ergue-se o cocheiro, desdenhoso, quase rei;
e os cavalos calçam ferraduras de prata.
Continuam proibidas as carruagens para
os índios, as putas e os castigados pela Inquisição.
Eduardo Galeano, em Os Nascimentos
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