segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

1600 – Cidade do México

As carruagens

Voltaram as carruagens às largas ruas do México.
Há mais de vinte anos, o ascético Felipe II as tinha proibido. Dizia o decreto que o uso do carro apoltrona os homens e os acostuma à vida mansa e preguiçosa; e que assim perdem músculos para a arte da guerra.
Morto Felipe II, as carruagens reinam novamente nesta cidade. Por dentro, sedas e cristais; por fora, ouro e o brasão na portinhola. Soltam aroma de madeiras finas e rodam com andar de gôndola e balançar de berço; atrás das cortinas cumprimenta e sorri a nobreza colonial. No pescante alto, entre franjas e bolas de seda, ergue-se o cocheiro, desdenhoso, quase rei; e os cavalos calçam ferraduras de prata.
Continuam proibidas as carruagens para os índios, as putas e os castigados pela Inquisição.

Eduardo Galeano, em Os Nascimentos

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