Ah,
sempre no curso leve do tempo pesado
A
mesma forma de viver!
O
mesmo modo inútil de ’star enganado
Por
crer ou por descrer!
Sempre,
na fuga ligeira da hora que morre,
A
mesma desilusão
Do
mesmo olhar lançado do alto da torre
Sobre
o plaino vão!
Saudade,
’sperança – muda o nome, fica
Só
a alma vã
Na
pobreza de hoje a consciência de ser rica
Ontem
ou amanhã.
Sempre,
sempre, no lapso indeciso e constante
Do
tempo sem fim
O
mesmo momento voltando improfícuo e distante
Do
que quero em mim!
Sempre,
ou no dia ou na noite, sempre – seja
Diverso
– o mesmo olhar de desilusão
Lançado
do alto da torre da ruína da igreja
Sobre
o plaino vão!
Fernando Pessoa, em Poesias inéditas e poemas dramáticos
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