A
primeira vez que entendi do mundo
alguma
coisa
foi
quando na infância
cortei
o rabo de uma lagartixa
e
ela continuou se mexendo.
De
lá pra cá
fui
percebendo que as coisas permanecem
vivas
e tortas
que
o amor não acaba assim
que
é difícil extirpar o mal pela raiz.
A
segunda vez que entendi do mundo
alguma
coisa
foi
quando na adolescência me arrancaram
do
lado esquerdo três certezas
e
eu tive que seguir em frente.
De
lá pra cá
aprendi
a achar no escuro o rumo
e
sou capaz de decifrar mensagens
seja
nas nuvens
ou
no grafite de qualquer muro.
Affonso Romano de Sant’Anna, in A implosão da mentira e outros poemas
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