baixo-astral, é uma questão
de desequilíbrio químico
e uma existência
que, por vezes,
parece impossibilitar
qualquer chance real de
felicidade.
eu estava num baixo-astral
quando um ricaço escroto
acompanhado de sua inexpressiva
namoradinha
numa Mercedes vermelha
cortou
a minha frente
no estacionamento do hipódromo.
o estalo lampejou
no meu íntimo:
vou arrancar o filho da puta
de seu carro e
arrebentar a
cara dele!
segui o sujeito
até os manobristas
estacionei atrás
e saltei do meu
carro
corri até
a porta dele
e puxei.
estava
trancada.
as
janelas estavam
levantadas.
eu bati na janela
do lado
dele:
“abre! eu vou
arrebentar a sua
cara!”
ele ficou sentado
olhando reto
em frente.
a mulher dele fazia
o mesmo.
eles não me
olhavam.
ele era 30 anos
mais novo,
mas eu sabia que podia
encarar,
ele era molenga
e mimado.
eu bati na janela
com meu
punho:
“sai daí, seu merda,
ou eu começo a
quebrar o vidro!”
ele acenou de leve a cabeça
para sua
mulher.
eu a vi estender
o braço
abrir oporta-luvas
e passar para ele
o.32
eu o vi segurar a arma
junto ao assento
e soltar a
trava de segurança.
fui andando
em direção
ao clube, o programa
parecia uma
beleza
naquele
dia.
tudo que eu precisava fazer
era
estar lá.
Charles Bukowski, in Você fica tão sozinho às vezes que até faz sentido
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