quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Os arautos negros

Há golpes na vida, tão fortes... sei lá!
Golpes como o ódio de Deus; como se diante deles,
a ressaca de tudo sofrido
vai se acumular na alma... sei lá!

São poucos; mas eles são... eles abrem valas escuras
no rosto mais feroz e nas costas mais fortes.
Talvez sejam os potros dos bárbaros Átila;
ou os arautos negros que a Morte nos envia.

Eles são as quedas profundas dos Cristos da alma
de alguma fé adorável de que o Destino blasfema.
Esses golpes sangrentos são os estalos
de um pão que queima na porta do forno.

E o homem... Pobre... Pobre! Role seus olhos como
quando uma batida nos chama por cima do ombro;
vira olhos doidos, e tudo viveu
ele se acumula, como uma piscina de culpa, no olhar.

Há golpes na vida, tão fortes... sei lá!

César Vallejo, in Antologia Poética

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