A
Silvina Ocampo
Quem
canta nas ourelas do papel?
De
bruços, inclinado sobre o rio
de
imagens, me vejo, lento e só,
ao
longe de mim mesmo: 6 letras puras,
constelação
de signos, incisões.
na
carne do tempo, ó escritura,
risca
na água!
Vou
entre verdores
enlaçados,
adentro transparências,
entre
ilhas avanço pelo rio,
pelo
rio feliz que se desliza
e
não transcorre, liso pensamento.
Me
afasto de mim mesmo, me detenho
sem
deter-me nessa margem, sigo
rio
abaixo, entre arcos de enlaçadas
imagens,
o rio pensativo.
Sigo,
me espero além, vou-me ao encontro,
rio
feliz que enlaça e desenlaça
um
momento de sol entre dois olmos,
sobre
a polida pedra se demora
e
se desprende de si mesmo e segue,
rio
abaixo, ao encontro de si mesmo.
Octavio Paz, in Antologia Poética
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