Um
dos grandes talentos da safra de artistas nordestinos que chegou ao
Rio de Janeiro no início dos anos 1970 (Fagner, Amelinha, Zé
Ramalho, Alceu Valença, Ednardo), Belchior fazia música desde
criança em Sobral, onde nasceu, em 26 de outubro de 1946, como
Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenele Fernandes. Em 1971 veio para
Rio e venceu o IV Festival Universitário da MPB com “Na hora do
almoço”, agradando ao público e à crítica.
Gravada
por Elis Regina em 1972, a sua lírica e nostálgica “Mucuripe”
(em parceria com Fagner) impressionou pela sofisticada construção
musical e pelas imagens poéticas de velas singrando o mar de
Fortaleza e as esperanças de “um rapaz novo encantado / com vinte
anos de amor”.
“Calça
nova de riscado / paletó de linho branco / que até o mês passado /
lá no campo ainda era flor.”
Em
1975, ganhou mais um prêmio: uma gravação impecável de Roberto
Carlos.
“Aquela
estrela é dela / vida vento vela leva-me daqui.”
Mas
o maior prêmio recebido por Belchior veio em dose dupla, novamente
na voz de Elis Regina, que incluiu os rocks “Como nossos pais” e
“Velha roupa colorida” no show e no disco Falso brilhante,
no fim de 1975. O show foi um espetacular sucesso, lotando o Teatro
Bandeirantes mais de um ano e só parando pela nova gravidez de Elis.
O álbum, gravado em 1976 (Polygram), tinha como faixa de abertura
“Como nossos pais”, seguida de “Velha roupa colorida”.
Estrela
e militante da MPB, ninguém esperava ouvir Elis cantando um rock –
e melhor do que qualquer um já havia feito no Brasil. Com a
interpretação visceral e rasgada de Elis, “Como nossos pais”
foi um grande sucesso popular, criticando o atraso da nova geração
e provocando a anterior, de Gil e Caetano.
“Hoje
eu sei que quem me deu a ideia / de uma nova consciência e juventude
/ está em casa guardado por Deus / contando o vil metal.”
Pegou
pesado. Com a polêmica, em gravações seguintes, de Elis e de
outros, o último verso foi amenizado para “contando os seus
metais”.
Blues,
folk, Dylan, Beatles, cordel, poesia concreta, canções de grande
apelo pop e interpretações vigorosas de letras expressivas e
contundentes, com rimas ricas e sonoras, levaram Belchior a grandes
sucessos como “A palo seco”, “Apenas um rapaz
latino-americano”, “Paralelas” e “Medo de avião”.
Em
2006, aos 60 anos, abandonou a carreira e sumiu no mundo, só sendo
encontrado dez anos depois em uma fazenda no interior do Uruguai.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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