Filho
de um judeu austríaco e uma católica iugoslava refugiados do
nazismo, o poeta, romancista e filósofo Jorge Mautner nasceu no Rio
do Janeiro, em 1941, onde viveu até os 7 anos. Até se mudar para
São Paulo, com a mãe e seu segundo marido, um violinista, o garoto
conviveu intensamente no mundo do candomblé levado por sua babá,
que era uma ialorixá. Estudioso de Marx e Nietzsche, surgiu como um
fenômeno ao ganhar, aos 21 anos, o maior prêmio literário
brasileiro, o Jabuti, com seu romance de estreia, Deus da chuva e
da morte. Comunista, com o golpe de 1964 foi preso e se exilou em
Nova York, onde viveu a explosão do pop, e depois em Londres, onde
se aproximou de Gilberto Gil e Caetano Veloso.
De
volta ao Brasil, Mautner, que, em 1966, já tinha lançado um
compacto simples com as músicas “Radioatividade” e “Não, não,
não”, encontrou no jovem violonista carioca Nélson Jacobina
(1953-2012) o seu parceiro ideal. Em 1974, Gilberto Gil deu seu aval
à qualidade da dupla gravando “Maracatu atômico”, com grande
execução nas rádios. Enquanto a música de Jacobina estilizava e
modernizava os ritmos do maracatu pernambucano, a letra de Jorge
fundia o atômico ao primitivo e o humor pop ao expressionismo
alemão. Receita de aparente complexidade que resultou num grande
sucesso popular.
“Atrás
do arranha-céu tem o céu, tem o céu / E depois tem outro céu sem
estrelas / Em cima do guarda-chuva, tem a chuva, tem a chuva / Que
tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las.”
Vinte
e dois anos depois, os pernambucanos Chico Science e Nação Zumbi,
maior revelação da música brasileira nos anos 1990, produziram uma
sensacional regravação da música de Jacobina e Mautner como um
heavy maracatu futurista, com base rítmica ultrapesada envolvida
pelos timbres rascantes das guitarras e dos beats eletrônicos.
Reunindo o primitivo regional com as raízes africanas e os sons
planetários, “Maracatu atômico” sintetizava o Mangue Beat e se
tornou um clássico do pop brasileiro.
Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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