Numa
de nossas ocasionais conversas fiadas, ontem de noite disse-me o
porteiro: “rato depois de velho vira morcego”. Olhei-o
atentamente. Era um velho porteiro. Não estava brincando. Devia ser
teimoso como todos os velhos. Seria pedante da minha parte tentar
convencê-lo de que a sua História Natural não o era muito...
Deixá-lo! Afinal, por que os ratos velhos não haveriam de virar
morcegos, da mesmíssima forma que as velhas solteironas viram postes
de fim de linha? Da mesma forma que os meus leitores desatentos viram
fumaça inconsistente e os leitores incrédulos não viram nada... (E
daí, você viu ou não viu?!) Pois é uma grande coisa escutar sem
contradizer.
Me
lembro que, quando menino, nada retruquei quando uma velha cozinheira
preta me assegurou que seria muito, muito rica no Céu... Seria
loira, também? Já não me lembro.
E,
em criaturas de outro estágio cultural, também existem crenças de
que não me seria lícito duvidar. Imaginem se, por acaso, com os
meus argumentos, eu conseguisse destruí-las! Que teria para lhes dar
em troca?
Nunca
se deve tirar o brinquedo de uma criança…
Mário Quintana, in Caderno H
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