terça-feira, 7 de março de 2023

Folhas secas | Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, 1973

Beth Carvalho abraça Guilherme de Brito e Nelson Cavaquinho

O que era para ser uma homenagem lírica e nostálgica à Mangueira gerou uma história de traições, brigas e discórdias.
Folhas secas” é uma obra-prima da fase madura da dupla Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito, que, em 1973, começava a receber as merecidas “flores em vida” que cobrara em um samba. Suas músicas eram disputadas pelos grandes interprétes da época, e “Folhas secas” foi gravada simultaneamente por Elis Regina e Beth Carvalho.
Folhas secas” estava reservada para Beth, que, cada vez mais enfronhada no mundo dos bambas do samba, tinha escolhido a música ainda inédita da dupla, e convidou César Camargo Mariano para fazer os arranjos do disco Canto para um novo dia (Tapecar), com a participação de Nelson Cavaquinho.
Os arranjos e o piano de César ficaram maravilhosos, o problema foi ele ser também o pianista, arranjador e namorado de Elis Regina. Encantado com o samba, César mostrou a gravação para o então diretor artístico da Polygram e produtor de Elis, Roberto Menescal, que também foi arrebatado pela canção e, atropelando a ética, decidiu oferecê-la a Elis para o disco que estava gravando.
Amiga de César, Beth ficou furiosa, com justa razão, e gravou a música correndo, ainda a tempo de sair junto com a gravação de Elis, que lhe deu uma interpretação quase minimalista com um jazz trio, enquanto Beth privilegiava uma versão mais exuberante com instrumentação tradicional de samba.
Ainda em 1973, o próprio Nelson gravou a sua versão, em seu terceiro álbum solo, Nelson Cavaquinho (EMI-Odeon). Com sua voz rouca, rascante e rachada, e o seu improvável violão rústico tocado com dois dedos, deu ainda mais emoção e autenticidade à história nostálgica de um velho bamba relembrando a mocidade e os poetas de sua Estação Primeira de Mangueira.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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