quarta-feira, 23 de novembro de 2022

Preciso aprender a ser só | Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle, 1965


Como muitos outros garotos de sua geração, o carioca Marcos Valle (1943) foi contaminado pelo vírus da bossa nova. Já fluente no acordeom e no piano, com o impacto da entrada em cena de João Gilberto, também foi estudar violão, chegando a formar um trio com Edu Lobo e Dori Caymmi. Logo começou a fazer suas primeiras composições, com letras do irmão Paulo Sérgio (1940). Era o início de um caminho sem volta, que fez Marcos trocar o curso de Direito na PUC pela música popular. Paulo Sérgio se formou advogado, mas acabou se tornando um dos maiores letristas do Brasil, com Marcos e outros parceiros.
A balada romântica “Preciso aprender a ser só”, feita por Marcos com apenas 21 anos, nasceu clássica e é um exemplo da excelência e da maturidade artística atingidas precocemente pelos irmãos. A música foi apresentada pela primeira vez em maio de 1964 por Elis Regina, num show para universitários em São Paulo, com participação de Marcos e recepção apoteótica. Em abril do ano seguinte seria lançada no álbum Dois na bossa, de Elis e Jair Rodrigues, e um ano depois, em uma versão jazzística, no LP Samba eu canto assim, de Elis Regina.
A versão de Marcos também saiu em 1965, em seu segundo álbum solo, O compositor e o cantor, e logo foi gravada por Os Cariocas, Dóris Monteiro, Alaíde Costa e Pery Ribeiro. Quase uma década depois, também ganhou uma homenagem transversa de Gilberto Gil, numa belíssima balada que faz um contraponto com a canção dos irmãos Valle sob uma ótica zen:
E quando escutar um samba-canção / Assim como: ‘Eu preciso aprender a ser só’ / Reagir e ouvir o coração responder: / eu preciso aprender a só ser.”
Vertida para o inglês por Ray Gilbert como “If You Went Away”, também fez carreira no mundo do jazz e do pop. Em 1966, Astrud Gilberto gravou-a no álbum Look to the Rainbow, mas usou como título uma tradução quase literal do original, “Learn to Live Alone”. No mesmo ano, como “If You Went Away”, foi gravada por Sylvia Telles no álbum The Face I Love. Dois anos depois, foi regravada por Marcos Valle em seu primeiro disco produzido nos Estados Unidos, Samba ‘68.
Mas sua definitiva incorporação ao seleto bloco de standards do jazz foi com a apaixonada interpretação da diva Sarah Vaughan, no álbum I Love Brazil, em 1977.

Nelson Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil

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