Como
muitos outros garotos de sua geração, o carioca Marcos Valle (1943)
foi contaminado pelo vírus da bossa nova. Já fluente no acordeom e
no piano, com o impacto da entrada em cena de João Gilberto, também
foi estudar violão, chegando a formar um trio com Edu Lobo e Dori
Caymmi. Logo começou a fazer suas primeiras composições, com
letras do irmão Paulo Sérgio (1940). Era o início de um caminho
sem volta, que fez Marcos trocar o curso de Direito na PUC pela
música popular. Paulo Sérgio se formou advogado, mas acabou se
tornando um dos maiores letristas do Brasil, com Marcos e outros
parceiros.
A
balada romântica “Preciso aprender a ser só”, feita por Marcos
com apenas 21 anos, nasceu clássica e é um exemplo da excelência e
da maturidade artística atingidas precocemente pelos irmãos. A
música foi apresentada pela primeira vez em maio de 1964 por Elis
Regina, num show para universitários em São Paulo, com participação
de Marcos e recepção apoteótica. Em abril do ano seguinte seria
lançada no álbum Dois na bossa, de Elis e Jair Rodrigues, e um ano
depois, em uma versão jazzística, no LP Samba eu canto assim,
de Elis Regina.
A
versão de Marcos também saiu em 1965, em seu segundo álbum solo, O
compositor e o cantor, e logo foi gravada por Os Cariocas, Dóris
Monteiro, Alaíde Costa e Pery Ribeiro. Quase uma década depois,
também ganhou uma homenagem transversa de Gilberto Gil, numa
belíssima balada que faz um contraponto com a canção dos irmãos
Valle sob uma ótica zen:
“E
quando escutar um samba-canção / Assim como: ‘Eu preciso aprender
a ser só’ / Reagir e ouvir o coração responder: / eu preciso
aprender a só ser.”
Vertida
para o inglês por Ray Gilbert como “If You Went Away”, também
fez carreira no mundo do jazz e do pop. Em 1966, Astrud Gilberto
gravou-a no álbum Look to the Rainbow, mas usou como título
uma tradução quase literal do original, “Learn to Live Alone”.
No mesmo ano, como “If You Went Away”, foi gravada por Sylvia
Telles no álbum The Face I Love. Dois anos depois, foi
regravada por Marcos Valle em seu primeiro disco produzido nos
Estados Unidos, Samba ‘68.
Mas
sua definitiva incorporação ao seleto bloco de standards do jazz
foi com a apaixonada interpretação da diva Sarah Vaughan, no álbum
I Love Brazil, em 1977.
Nelson
Motta, in 101 canções que tocaram o Brasil
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