terça-feira, 2 de agosto de 2022

Promontório

Seja como o promontório que permanece firme quando as ondas quebram nele e que doma a fúria da água ao seu redor.
Estou infeliz porque isto aconteceu comigo? Não. Estou feliz apesar disto, pois continuo sem sentir dor, sem ser esmagado pelo presente e sem temer o futuro. Algo como isto poderia ter acontecido com qualquer homem, todavia nem todos permaneceriam livres da dor. Por que, então, isto é admitido como infortúnio e não como dádiva?
Você considera um obstáculo isso que não o desvia de sua natureza? Ademais, considera um desvio isso que não é contrário à vontade da natureza do homem? Bem, você conhece a vontade natural. Nesse caso, isso o impedirá de se manter justo, magnânimo, temperante, prudente e protegido contra falsidades e opiniões inconsideradas? De cultivar a modéstia e a liberdade e de reunir todas as qualidades a partir das quais a natureza do homem obtém tudo que lhe pertence?
Quando se aborrecer, lembre-se de aplicar esta convicção: “Isto não é um infortúnio e, caso eu suporte nobremente, será uma dádiva.”

Marco Aurélio, in Meditações

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