terça-feira, 16 de agosto de 2022

Fascismo e Ciência

Carta ao ministro Rocco, em Roma

Senhor e mui digno colega,

Dois homens, dos mais notáveis e mais afamados dentre os cientistas italianos, dirigem-se a mim em sua angústia moral e rogam-me que vos escreva a fim de evitar a cruel iniquidade que ameaça os sábios da Itália. De fato, deveriam prestar um juramento em que se exalta a fidelidade ao sistema fascista. Eu vos peço, portanto, que aconselheis o Senhor Mussolini no sentido de que se evite esta humilhação para a nata da inteligência italiana. Apesar das diferenças de nossas convicções políticas, um ponto fundamental, eu sei, nos reúne: ambos conhecemos e amamos, nas obras-primas do desenvolvimento intelectual europeu, os valores supremos. Eles exigem liberdade de opinião e liberdade de ensino porque a luta pela verdade deve ter precedência sobre todas as outras lutas. Sobre este fundamento essencial, nossa civilização pôde nascer na Grécia e celebrar sua ressurreição no tempo da Renascença na Itália. É um Bem supremo, pago pelo sangue dos mártires, estes homens íntegros e generosos. A Itália hoje é amada e honrada, graças a eles.
Não é minha intenção discutir convosco os danos causados à liberdade humana e as possibilidades de justificação pela razão de Estado. Mas o combate pela verdade científica, afastado dos problemas concretos da vida cotidiana, deveria ser considerado intocável pelo poder político. Não será de bom aviso deixar que os servidores sinceros da verdade vivam em paz o tempo necessário? Não será também este o interesse do Estado italiano e de sua reputação no mundo?”

Albert Einstein, in Como Vejo o Mundo

Nenhum comentário:

Postar um comentário