O sono, que deve ser natural, como determinou Deus para a natureza do homem, dá tempo para que este descanse dormindo dos trabalhos que executa acordado — e neste dormir, segundo afirmaram com razão os que se ocuparam das coisas da natureza, os membros folgam e estão quedos — quando o espírito da vida movimenta os sentidos e quer trabalhar com eles, assim como utiliza o corpo quando este não dorme, e por isso os homens sonham muitas coisas, de maneira natural e com muita razão e, também, como resultado do que comem ou bebem, ou do que fazem ou cuidam quando estão despertos, ou ainda segundo aumentam ou diminuem os quatro humores de que é feito o corpo; quando fala dormindo o homem aumenta suas preocupações e seus desejos, pois acredita no que está sonhando, e quando acorda se vê sem nada. Por conseguinte, aqueles que sobre tão frágil base armam sua crença, deixam perceber que esta crença não era firme nem sã, nem poderia durar muito tempo.
Alfonso o Sábio, Setenário (Lei XVI), in Livro de Sonhos, de Jorge Luis Borges
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