Você que agora caminha por este poema,
não está ouvindo, além do som das
sílabas,
o som de sinistros passos ecoando secos
em seu encalço, como que para
encarcerá-lo,
como que para amordaçá-lo? Não está
agora
pressentindo atrás de sua própria
sombra
uma outra sombra, que, aos poucos, se
agiganta
querendo, de forma réptil, cobrir tudo,
todos,
com sua escura manta? Não está
sentindo,
agora, fazer ninho eu seus ouvidos a
gralha
a rasga-mortalha da histérica pregação,
que busca ensurdecê-lo com seu grasnado
para que ouça, unicamente, a voz
intolerante,
a voz fanática e prepotente do Deus
demente?
Não está vendo uma venda que,
lentamente,
cai sombria sobre seus olhos, sobre sua
mente?
Você que agora caminha por este poema,
cuidado, aqui perto, no fim da Rua
Extrema
a oficina do fascismo fabrica frias
algemas.
Antônio Moura
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