domingo, 19 de dezembro de 2021

O banho de música das 18 horas | Capítulo 7

Devido a uma ligação de emergência da madame Asari, a secretária de Estado, os estudantes Penn e Bara tiveram de deixar o aposento imediatamente. Eles receberam a notícia de que a secretária do presidente Miruki estaria visitando o setor Alishia dentro de cinco minutos. Desse modo, os dois logo se dirigiram para o expresso transportador e retornaram ao setor, bem a tempo.
Não vejo o professor Kohak. Eu me pergunto o que aconteceu a ele.
Hum, não tenho certeza. Já deu a hora marcada e ele não está aqui. Que estranho.
Eles não demoraram a notar a ausência do professor. Temendo a ira do presidente Miruki, perguntaram a várias pessoas sobre Kohak e averiguaram cada sala, mas não havia sinal dele em lugar algum.
Você procurou dentro do armário do laboratório e debaixo das mesas também? — Penn perguntou.
Claro que sim. Eu fiz o possível, mas não consegui encontrá-lo. E parece que ninguém sabe sobre ele.
Ninguém? A quem você perguntou?
Quem? — Bara riu. — Todo mundo.
Por alguma razão, a carranca de Bara se transformou em um sorriso esquisito.
Pouco depois, eles ouviram um tumulto do lado de fora que interpretaram como indicativo da chegada da secretária.
Ambos se apressaram até a porta.
Oh, é…
Minha nossa, o presidente está…
Eles esperavam a chegada da secretária; no entanto, para sua grande surpresa, ela escoltava o próprio presidente, parado arrogantemente.
Madame Asari invadiu a sala e, desdenhosa, olhou para Penn e Bara. Depois, virou-se (embora não na direção de alguém em particular) e começou a falar.
O professor Kohak, do setor Alishia, foi executado hoje, como punição na participação de um escândalo envolvendo a senhora Miruki. Portanto eu, secretária Asari, vou tomar conta deste setor por um tempo, em paralelo ao meu cargo atual. Ademais, Bara deve se tornar vice-chefe provisória. Isso é tudo.
Penn e Bara começaram a tremer como se levassem um choque; essa era a primeira vez que ouviam falar sobre a violenta morte do professor.
Era difícil de acreditar que qualquer escândalo poderia ocorrer entre o professor Kohak e a senhora Miruki. Ele ficava calado em seu laboratório e dedicava quase 24 horas do seu dia ao trabalho. Ele não teria tempo ou motivação para se envolver com tal coisa. Mas se ele estivesse, no que exatamente isso implicaria? Além disso, o professor Kohak era o número um da nação — ou melhor, o cientista mais famoso dali. Ele era o tesouro mais precioso da Nação Miruki. Sob a direção do presidente Miruki, o professor desenvolveu e construiu uma variedade de instalações culturais. Executá-lo equivalia a um ato de suicídio por parte do Estado. Quem iria continuar o trabalho do professor agora que ele se foi? Que terrível e impensada sentença de morte. No futuro, o que seria dos androides que eles estiveram desenvolvendo, que já consumiram uma grande porção do orçamento nacional? Os pupilos do professor sentiram como se o chão houvesse cedido debaixo de seus pés.
Portanto, vice-chefe madame Bara, eu ordeno que você acompanhe o presidente em uma inspeção completa do setor Alishia, onde o professor Kohak estava designado. Você deve começar essa tarefa agora.
Bara sentiu um toque de alegria ao ser chamada de vice-chefe, mesmo sem nenhuma vontade de conduzir o presidente através do setor Alishia.
Mas uma ordem era uma ordem. Ela não teve escolha, portanto começou a guiar o grupo que acompanhava o presidente Miruki por cada sala, começando pela oficina mais próxima.
Todo o setor Alishia ficava em um único andar, com um total de dezesseis salas de tamanhos variados. Mas o único intimamente familiarizado com as dezesseis salas era o professor Kohak; Bara conhecia nove delas e Penn, apenas seis. Todos os cidadãos do mesmo setor eram autorizados por lei para conhecer cada centímetro delas, porém o professor quebrou a convenção e restringiu o acesso aos laboratórios baseado no nível de autorização de cada um.
A inspeção das primeiras seis salas foi completada sem dificuldades. Para falar a verdade, eles encontraram coisas incomuns, mas nada muito impactante. Então Bara se virou para o grupo e disse: — A partir da sétima sala, estão os laboratórios focados sobretudo na pesquisa secreta sobre androides. Nós iremos encontrar coisas estranhas, estejam preparados… — alertou.
Eles entraram na sétima sala, onde se via muitas máquinas de larga escala, lado a lado como árvores em uma floresta. Todas elas continham um motor de decomposição nuclear alimentado por raios cósmicos artificiais. Suas unidades eram organizadas em 24 eixos, cada um conectado a vários cabos de energia, alimentados através de transformadores. Uma parede da sala estava coberta de cabos amontoados — parecia um tecido de malha visto através de um microscópio. A completa ausência de som deu uma grave impressão de estarem no fundo do oceano, tornando o ambiente perturbador.
Ao entrarem na oitava sala, um lugar que poderia ser chamado de museu de autômatos, encontraram armazenados espécimes utilizados como referência. Todas as variedades de autômatos criados pelo homem, a partir do século IV a.C., podiam ser vistos. Havia cerca de setecentos modelos: engenhocas parecidas com marionetes e guerreiros armados, até unidades controladas por rádio construídas com um interruptor eletromecânico, e modelos com uma extraordinária aparência quase humana, com pele artificial. Esses espécimes de autômato olhavam eterna e fixamente para o teto, com expressões estranhas em seus rostos, e o lugar estava abarrotado, como um salão de múmias.
Penn observava com os olhos arregalados, enquanto apertava as mãos, claramente desconfortável com a estranheza dessas salas que ele via pela primeira vez.
Esta é a nona sala. As coisas vão ficar um pouco barulhentas aqui — Bara disse, como se fosse uma guia turística.
O presidente Miruki e a secretária trocaram olhares ansiosos, mas um momento depois eles ergueram seus peitos e ombros, na tentativa de parecer corajosos frente à porta da nona sala.
Apesar de ter prometido guiar o grupo, por alguma razão, Bara hesitou em abrir a porta. A secretária Asari percebeu isso no mesmo instante e ficou histérica, como de costume.
Perder tempo aqui é inútil. Abra essa sala agora mesmo! — madame Asari disse, enquanto encarava Bara.
Mesmo assim, a hesitação de Bara persistiu; ela pegou um lenço e passou em sua testa suada. Penn ficou preocupado quando viu o comportamento de Bara e se afastou da porta.
A face da secretária se avermelhou aos poucos, conforme a raiva borbulhava dentro dela.
Então você não irá abrir a porta. Bem, se você não abrir, eu vou! Mas é bom se preparar para a punição.
Assim que a secretária estava prestes a abrir a porta, Bara pulou na frente dela.
Isso… é perigoso. Por favor, pare. Se você a abrir agora, ela vai explodir!

Juza Unno, in A última transmissão

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