Quantos de nós quereriam viver não a
vida
mas o filme, quando a vida não é vida
e não se morre na morte e o que finda
não apodrece porque logo é outro set;
vida em que se passa a salvo de um dia
a outro sem que se viva a semana entre
eles; viver sob as ordens de um destino
por escrito que sabemos previamente
e o vivemos sem vivê-lo. A força dos
fortes
que voam; bandos que matam sem matar;
fracos que não desistem; bravos que no
fim
se vingam. Tantos de nós desejaríamos
ter vivido e ter amado amores
desgraçados,
cuja beleza, tão bela, era mais bela que
a dor e a dor era mais a beleza que o
doer.
Queríamos que fosse não a vida, mas
a cena e a canção crescendo no momento
certo da alegria, no instante do beijo,
no clímax. Close: quando
errássemos,
bem na hora, a voz de um Deus dizendo
corta!
Eucanaã Ferraz
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