Não quero mais a fúria da verdade.
Entro na sapataria popular.
Chove por detrás. Gatos amarelos
circulando no fundo.
Abomino Baudelaire querido, mas procuro
na vitrina um modelo brutal. Fica boazinha, dor; sábia como deve
ser, não tão generosa, não. Recebe o afeto que se encerra no meu
peito. Me calço decidida onde os gatos fazem que me amam, juvenis,
reais. Antes eu era 36, gata borralheira, pé ante pé, pequeno
polegar, pagar na caixa, receber na frente. Minha dor. Me dá a mão.
Vem por aqui, longe deles. Escuta querida, escuta. A marcha desta
noite. Se debruça sobre os anos neste pulso. Belo belo. Tenho tudo
que fere. As alemãs marchando que nem homem.
As cenas mais belas do romance o autor
não soube comentar. Não me deixa agora, fera.
Ana Cristina Cesar, in A teus pés
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