O telefone tocou, eu atendi, chamaram por
mim. Em geral pergunto quem é porque nem sempre estou disposta a ser
chateada.
Mas dessa vez alguma coisa na voz, doce e
tímida, me fez dizer que era eu mesma que estava ao telefone. Então
a voz disse: sou uma leitora sua e quero que você seja feliz.
Perguntei: como é seu nome? Respondeu: uma leitora. Eu disse: mas eu
quero saber seu nome para poder dizê-lo ao desejar que você seja
feliz. Mas foi inútil, ela não tinha sequer diante de mim a vontade
de aparecer como pessoa que é. Era o anonimato completo.
Mas para você, de quem nem ao menos sei
o nome, quero que tenha alegrias e que, se já não é casada, que
encontre o homem de sua vida. Peço também que não leia tudo o que
escrevo porque muitas vezes sou áspera e não quero que você receba
minha aspereza.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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