Sempre
me pareceu que um poema era algo assim como um passarinho engaiolado.
E que, para apanhá-lo vivo, era preciso um meticuloso cuidado que
nem todos têm. Poema não se pega a tiro. Nem a laço. Nem a grito.
Não, o grito é o que mais o mata. É preciso esperá-lo com
paciência e silenciosamente como um gato.
Ora,
pensava eu tudo isso e o céu também, quando topo com uns versos de
Raymond Queneau, que confirmam muito da minha cinegética
transcendental. Eis por que aqui os traduzo, ou os adapto e os adoto
sem data venia:
Meu
Deus, que vontade me deu de escrever um poeminho...
Olha,
agora mesmo vai passando um!
Pst
pst pst
vem
para cá para que eu te enfie
na
fieira de meus outros poemas
vem
cá para que eu te entube
nos
comprimidos de minhas obras completas
vem
cá para que eu te empoete
para
que eu te enrime
para
que eu te enritme
para
que eu te enlire
para
que eu te empégase
para
que eu te enverse
para
que eu te emprose
vem
cá...
Vaca!
Escafedeu-se.
Mário
Quintana, in Sapato florido
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