sexta-feira, 13 de março de 2020

Os chamares

A lua chama o mar e o mar chama o humilde jorro de água, que em busca do mar corre, corre de onde for, por mais longe que seja, e correndo cresce e arremete, e não há montanha que lhe detenha o embate. O sol chama a parra, que querendo sol se estica e sobe. O ar matinal da montanha chama os odores da cidade que acorda, aroma do pão acabado de cozer, aroma do café acabado de moer, e os aromas no ar penetram e do ar se apoderam. A noite chama as flores do jacinto-de-água, e à meia-noite em ponto explodem no rio esses brancos fulgores, que abrem o negrume e se metem nele e o comem.

Eduardo Galeano, in O Livro dos Abraços

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