O
silêncio é o modo
como
o marido habita a casa.
Vencida
a porta, ao final do dia,
o
homem assume porte e posses.
A
mesa é onde os seus cotovelos
derramam
milenares cansaços.
Nesse
cotovelório
vai
trocando vida por idade.
Partilha
a medonhez dos bichos:
medo
do silêncio,
mais
pavor ainda das palavras.
Para
a mulher, porém,
ele
não é senão um menino
no
aguardo de um agrado.
Em
redor do silêncio
ela
rodopia, sem voz, sem cheiro, sem rosto.
Em
solidão,
o
homem come,
merecedor
do que lhe é servido.
Depois,
bebe
como se fosse bebido,
tragado
pelo vazio dos desertos.
Dono
do seu despovoado,
então,
ele a agride, com ferocidade de bicho.
A
mulher se estilhaça no soalho,
sombrio
retrato da parede tombado.
No
leito,
já
servido o marido,
as
lágrimas vão colando os seus fragmentos.
E
a esposa volta a ser coisa.
Mia
Couto
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