sábado, 14 de setembro de 2019

O negócio

Grande sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se abastecem de pão e banana:
- Como é o negócio?
De cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma promessa a recusa:
- Deus me livre, não! Hoje não...
Abílio interpelou a velha:
- Como é o negócio?
Ela concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a dona Julietinha foi assim. Ele se chegou:
- Como é o negócio?
Ela sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, duas batidas na porta da cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada.
O vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza. No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes na porta. O marido em viagem, mas não era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à janela e o vizinho repetiu:
- Como é o negócio?
Diante da recusa, ele ameaçou:
- Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!
- Espere um pouco - atalhou Julietinha. - Já volto.
Abriu a janela, despejou água quente na mão do negro, que fugiu aos pulos.
A moça foi ao boteco. Referiu tudo ao velho Abílio, mão na cabeça:
- Barbaridade, ô neguinho safado!
O vizinho não contou e o cometa nada descobriu. Mas o velho Abílio teve medo. Nunca mais se encontrou com Julietinha, cada dia mais bonita.
Dalton Trevisan, in Mistérios de Curitiba

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