Grande
sorriso do canino de ouro, o velho Abílio propõe às donas que se
abastecem de pão e banana:
-
Como é o negócio?
De
cada três dá certo com uma. Ela sorri, não responde ou é uma
promessa a recusa:
-
Deus me livre, não! Hoje não...
Abílio
interpelou a velha:
-
Como é o negócio?
Ela
concordou e, o que foi melhor, a filha também aceitou o trato. Com a
dona Julietinha foi assim. Ele se chegou:
-
Como é o negócio?
Ela
sorriu, olhinho baixo. Abílio espreitou o cometa partir. Manhã
cedinho saltou a cerca. Sinal combinado, duas batidas na porta da
cozinha. A dona saiu para o quintal, cuidadosa de não acordar os
filhos. Ele trazia a capa de viagem, estendida na grama orvalhada.
O
vizinho espionou os dois, aprendeu o sinal. Decidiu imitar a proeza.
No crepúsculo, pum-pum, duas pancadas fortes na porta. O marido em
viagem, mas não era dia do Abílio. Desconfiada, a moça surgiu à
janela e o vizinho repetiu:
-
Como é o negócio?
Diante
da recusa, ele ameaçou:
-
Então você quer o velho e não quer o moço? Olhe que eu conto!
-
Espere um pouco - atalhou Julietinha. - Já volto.
Abriu
a janela, despejou água quente na mão do negro, que fugiu aos
pulos.
A
moça foi ao boteco. Referiu tudo ao velho Abílio, mão na cabeça:
-
Barbaridade, ô neguinho safado!
O
vizinho não contou e o cometa nada descobriu. Mas o velho Abílio
teve medo. Nunca mais se encontrou com Julietinha, cada dia mais
bonita.
Dalton
Trevisan, in Mistérios de
Curitiba
Nenhum comentário:
Postar um comentário