segunda-feira, 22 de abril de 2019

Aquele casal

O sr. Inclusive roía as unhas, preocupado. A sra. Alternativa, sua mulher, dissera que não ia se demorar, e já se haviam passado cinco horas sem que ela voltasse.
Com Alternativa não se pode ficar sossegado — resmungava ele. — Inclusive já pedi a ela que percorresse sempre o mesmo caminho de volta, que é o mais curto e o mais seguro. Não quer me ouvir, prefere dar voltas. Alega que assim está sempre experimentando novas possibilidades de caminho, e quem sabe se não descobrirá um dia a mais favorável.
A sra. Alternativa, postada diante de uma bifurcação, hesitava na escolha de rumos. E consultando um caderninho, monologava:
Meu problema é escolher entre dois caminhos, mas eu preferia que a escolha fosse entre nove ou dez. O bom seria que de uma alternativa derivasse outra alternativa, e assim por diante, gerando número infinito de opções. O Inclusive não compreende isto. Fica pensando que todas as alternativas podem se englobar no processo de inclusão. Ele esquece que todo inclusive tem a alternativa de um exclusive (aliás, de muitos). Isso torna a nossa vida conjugal bastante monótona. Pensando bem, só há uma alternativa para mim: o divórcio ou um amante sensível às variantes da vida.
Inclusive já pensei em matá-la — disse consigo o marido, à mesma hora, andando de um lado para outro. — Como é que eu posso viver com uma mulher que inclusive não tem hora de chegar em casa?
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis

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