segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O verdadeiro começo da tragédia (Operação pra lá de Bagdá)

Meu nome é Frank Drebin. Sou tenente aposentado do Esquadrão da Polícia e dizem que me pareço, apenas fisicamente, com o ator Leslie Nielsen.
Quando deixei a ativa, tive uma forte depressão por não ter o que fazer, uma espécie de nostalgia dos bons tempos de combate ao crime organizado. Meu médico me aconselhou a procurar um “derivativo”, ou seja, ocupação semelhante ao do meu antigo job: guarda de segurança, agente penitenciário, traficante etc. Como os criminosos que se dão bem in my country costumam vir pro Brasil, resolvi segui-los até aqui, Confesso que me sinto em casa. Bang!
Não lembro bem o dia em que o terrível mal-entendido começou. Sei que era de manhã e eu tinha acabado de pular por cima dos corpos de turistas assassinados no saguão do meu hotel. Dentro do elevador também havia um presunto. Resolvi ir pelas escadas. Fui seqüestrado no 3° andar. Colocaram um capuz em minha cabeça e me conduziram na garupa de uma moto até o helicóptero. Estranho. Após alguns minutos de voo, mudei de aeronave. Fui amarrado no acento de um avião privativo das Forças Armadas. Sei que pousamos em Brasília pelo comentário do piloto: “Detesto essa merda”.
Em terra, me atiraram na parte de trás de um furgão. Senti que me conduziam à presença do chefe. Minha surpresa, ao arrancarem o capuz, quase me custou a vida:
- Shit!
Um brutamontes ameaçou dar um chute na minha cara, mas o Tuma impediu. Sim, era ele mesmo, em carne e bigode. Um cara afável.
- Oi, Frank. Desculpe o mau jeito. Medidas de segurança. Você foi do ramo e entende nosso problema.
- Esquece, Tuma. Em que posso ser útil?
- Gostaria que você auxiliasse nosso pessoal numa pequena operação. Como intérprete. Pode haver ti-ti-ti diplomático.
- Oquêi!, Rô-Rô, tamos aí.
- Good, Frank. Mas me faz um favor...
- É só pedir, Rô-Rô.
- Não me chama de Rô-Rô, porra!
O brasileiro gosta de informalidade, mas convém não exagerar. Acendi a boca e falei pelo canto do cigarro:
- Paraguai de novo?
- Não. Desta vez é coisa grande. Mas muito, muito delicado. Por isso pensamos em você.
Fiz um gesto de “ora” e derrubei uma jarra no colo de um coronel do Serviço Secreto.
- Frank, nós descobrimos onde estão os dólares do sequestro do Medina.
Engoli seco.
- Pense, Frank. De Medina você vai a
- Meca!
- Exato, Frank. É isso aí. Ligamos pro nosso aliado no Iraque e montamos uma operação de despiste para chegar até a Arábia Saudita. Tudo foi planejado de maneira a provocar um risco zero de repercussão internacional. O Rezeck tem dúvidas, mas você sabe como são esses almofadinhas. Contamos com seu tato, Frank.
Serei sutil como nunca.
- A senha, Frank, é Kuwait a minute.
- Bem bolado, Rô... excuse me!
- E, Frank: nada de escândalo.
No Iraque, fui encontrar Saddam, que nós chamávamos de Bush’s Boy, no Golfo Gala Gay. A senha era fácil. Fantasiado de Carmen Miranda estilizada eu deveria cantar:
- Mulata bossa-nova caiu no hully-gully...
Saddam, de odalisca, completaria:
- ... E só dá ela...
Os dois, pulando feito loucas:
- ... Naaa passarela!
Seguimos rigorosamente as instruções do Tuma.
O bombardeio a Bagdá começou no dia seguinte. Tenho passado horas tentando enxergar onde foi que nós erramos. Shit.
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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