Nunca
mais
A
tua face será pura limpa e viva
Nem
o teu andar como onda fugitiva
Se
poderá nos passos do tempo tecer.
E
nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca
mais servirei senhor que possa morrer.
A
luz da tarde mostra-me os destroços
Do
teu ser. Em breve a podridão
Beberá
os teus olhos e os teus ossos
Tomando
a tua mão na sua mão.
Nunca
mais amarei quem não possa viver
Sempre,
Porque
eu amei como se fossem eternos
A
glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te
em verdade e transparência
E
nem sequer me resta a tua ausência,
És
um rosto de nojo e negação
E
eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca
mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia
de Mello Breyner Andresen
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