domingo, 19 de agosto de 2018

Cena carioca - IV

Guinga me contou a história de um temível bandido, lá pros lados de Cascadura, que desmunhecava com uns goles de pau-pereira. Aos capangas que, no maior grilo, topavam o sacrifício, pedia:
- Faz isso comigo não.
Se os caras, acovardados, ameaçassem parar, gemia:
- Faz isso comigo não.
Igualzinho o caso do morenaço da Saúde, esposa do Francês. Salta de carros diferentes na esquina, é o assunto das comadres invejosas. O marido ameaça matá-la em defesa da honra. Ela, teatral, implora:
- Faz isso comigo não.
E ele, com ligeiro sotaque:
- Ton ce non fé-mé-ziss comig non.
Lágrimas. Reconciliação. Até a próxima sexta.
Assim também ama e padece a classe média carioca.
Tomando emprestada a ideia-ensaio de Wilson Coutinho, Papai Brizola se lamenta com ares de Rigoletto. Tio Covas, vivido e elegante, fuma seu cachimbo. Ela, tadinha, não sabe se dá pro playboy de moto ou pro torneiro-mecânico de sandália havaiana.
Vai doer de qualquer maneira.
E só restará a ela, com a cenoura firmemente entalada, suplicar a uns e outros, enquanto revira os olhinhos:
- Faz isso comigo não…
Aldir Blanc, in Brasil passado a sujo

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